17.12.08

Sapatada

Por João Paulo Guerra
Não conheço o Código Deontológico, o Regulamento da Carteira Profissional e o Regulamento Disciplinar dos Jornalistas do Iraque e assim não sei se atirar sapatos aos conferencistas, durante as conferências de imprensa, faz parte do rol de direitos dos plumitivos da nova Mesopotâmia.
O QUE SEI é que Muntadar al-Zeidi se transformou, de um dia para o outro, num herói de Bagdad e de grande parte do mundo árabe. E é justo que haja um herói jornalista na região do mundo onde mais jornalistas têm morrido nos últimos anos.
O acto pelo qual al-Zeidi se tornou uma figura pública foi atirar a George W. Bush o que tinha mais à mão: não apenas um, mas os dois sapatos. E a verdade é que a destreza manifestada pelo já quase ex-presidente americano mostrou que Bush está habituado a esquivar-se, de sapatos ou de outros meios de expressão usados para mostrar o apreço em que a sua administração é tida no mundo. Mas com a paranóia securitária que vai pelo mundo, não faltará que o acesso a actos públicos passe a ser reservado a pés descalços, para evitar que o arremesso de sapatos, chancas, sandálias, galochas, tamancos ou botifarras, venha a ser um novo meio de expressão política. Sinal dos tempos: dantes os protestos eram de luva branca, agora desceram ao nível do chinelo.
E de facto sabe-se lá que estrago, directo, colateral ou mesmo dano amigo, poderá causar um sapato, ou quem diz um sapato diz uma chuteira ou uma bota cardada? Calhando, eram deste calibre as armas de destruição maciça que tantas e tão iluminadas criaturas viram, ou julgam ter visto, ou ouviram dizer que existiam no Iraque. Com efeito, se toda a questão do Iraque foi abordada e tratada com os pés, porque razão não haveria de acabar à sapatada?
«DE» de 17 de Dezembro de 2008
NOTA (CMR): Um dos muitos vídeos que mostram a referida cena pode ser visto [aqui]

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