País de correcção
Por Joaquim Letria
TINHA UM AMIGO que, há uns anos, dizia que o importante era dever-se, pelo menos, 100 mil contos à banca. Depois, dizia ele, o banco é o primeiro a não querer que te constipes e não deixa que te aconteça nada de mal.
Neste tempo, os bancos eram geridos por gente séria, o escudo era a nossa moeda nacional e não se ouvia falar em crédito mal parado, apesar dos juros terem dois dígitos. Com o euro, os juros desceram e o crédito passou a ser um bodo aos pobres que, de repente, começaram a pedir dinheiro emprestado para comprarem a casa e o carro que antes não tinham.
Hoje, o excesso de endividamento não é só uma dor de cabeça para quem deve. Empresas dum lado e bancos do outro acumularam dívidas que impedem o país de crescer. O Estado não se aproveitou da subida da receita fiscal para reduzir o défice. E agora, aqui d’el rei! Estão todos a corrigir. Somos um país de correcção.
«24 Horas» de 7 de Janeiro de 2009
NOTA (CMR): João Miguel Tavares, na sua crónica de anteontem no «DN» [aqui], dizia que as pessoas (as da classe média, presume-se) continuavam a consumir como se a crise não fosse nada com elas. Outros dizem que não é bem assim. Resolvi, então, pegar na máquina fotográfica e ir ver quem tem razão. [Aqui] está o que encontrei.
Etiquetas: JL
4 Comments:
Adiar consumo normal, nada adianta. Consumo supérfluo pode esperar um pouco e sem recurso ao crédito.
Os saldos poderão explicar os parques de estacionamento cheios? Os supermercados (a que horas foram tiradas as fotos?) não fazem saldos (por vezes fazem promoções, seja lá o que isso significa) e ainda há na arca ou no frigorífico sobras da época das festividades...
Do que JMT na sua crónica do DN se esquece é que haver muito tempo que isto não estava TÃO BOM para a classe média, não quer dizer que esteja BOM.
Como Portugal está sempre em crise e a classe média tem vindo a pagá-la cada vez mais, agora que as outras classes avançaram um pouco nesse "pagamento", podemos dizer que a classe média abrandou o seu pagamento da crise, mas apenas em relação às outras, já que continua quase afogada como de costume.
R. da Cunha,
Claro que as fotos não valem nada como documento. São apenas uma metáfora, uma provocação.
Já agora: foram tiradas mais ou menos à mesma hora, em 2 dias seguidos desta semana. As de cima, em Portimão; as de baixo, em Lagos.
Achei particularmente estranho o facto de o Decathlon estar cheio. Não só com gente a ver e a passear, mas a comprar.
Não tenho nada contra isso, mas achei que o contraste com o supermercado vazio («É a crise...», segundo, lá, me disseram) fazia com que valesse a pena partilhar convosco o conjunto das 4 fotos.
Quando era mais novo e tinha vontade de provocar simplesmente por isso mesmo, fazia umas pequenas "experiências" no supermercado.
Trocava os anúncios de promoções de um produto para outro que não estivesse realmente.
E no dia seguinte era ver o stock desse produto reduzido a metade.
Ninguém olhava para a realidade da suposta promoção, bastava acenar esse chamariz e lá iam todos comprar...
Agora estamos em época de saldos e lá vão todos a pensar que estão a ser os espertalhões de serviço, a poupar dinheiro, gastando na verdade mais porque compram produtos que não comprariam em circunstâncias normais mas que estão mesmo ali ao lado...
Bastou ver as mini-entrevistas da black Friday do El Corte Ingles para perceber o que digo.
Pessoas que declaravam que estavam lá sem saberem quanto era o desconto, mas que como lhes tinham dito que era barato, não faltavam.
E depois, quando o jornalista anunciava o desconto de 20€, as pessoas sentiam-se defraudadas.
Mas lembrarem-se de pensar antes é que não!
No final de contas, podem passar todos sem comer, mas deixar que o vizinho pense que não têm roupa de marca para vestir é que não!
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