Optimismo é questão de perspectiva
Por Ferreira Fernandes
É OFICIAL: estamos em recessão. Quer dizer, é oficial estarmos um niquinho abaixo do costume. Boa! É que os outros não resvalaram, caíram a pique.
Uma das poucas vantagens de ser pobre é que sai muito mais em conta. A maioria dos europeus não gozaram do privilégio que os portugueses tiveram: nós nascemos pobres, já sabíamos, eles receiam morrer pobres, ficaram a saber. Quer dizer, o nosso saber de sempre é infausta surpresa para os outros.
Não há como fugir à inevitabilidade dos números: se todos ficarem paradinhos (é a definição de recessão), aquela coisa do costume de nos distanciarmos do resto da Europa, porque eles iam mais rápido, acabou. O balanço em Dezembro de 2009 pode ser: "Pela primeira vez não se alarga o fosso com a Europa". Boa! A novidade é: sempre no fosso, mas não mais no fosso. A crise era a nossa especialidade e, agora, podemos dizê-lo, deslocalizamos a nossa especialidade. Boa! Estamos onde sempre estivemos: sabendo que não vamos para o sucesso. Mas, desta vez, com o prazer de não haver gente de sucesso para aplaudir.
Estamos mais ricos: não temos quem invejar.
«DN» de 7 de Janeiro de 2009Etiquetas: autor convidado, F.F
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