6.1.09

Pátria ingrata

Por Joaquim Letria
UMA JOVEM PROFESSORA da Universidade de Coimbra dirige a equipa de antropólogos que na Guiné Bissau recupera corpos de militares que Portugal ali abandonou. Hoje, há soldados desconhecidos portugueses nas sepulturas de Guidage e Farim, na Guiné, e também em Portugal, onde aguardam a morosa análise de ADN que os familiares desejaram, para finalmente darem repouso aos seus entes queridos.
A equipa de Eugénia Cunha localizou mais 21 restos mortais de militares portugueses e a Liga dos Combatentes concorda que há mais de cem locais na Guiné onde se encontram enterrados militares portugueses.
Sabemos que a Pátria é ingrata, promovendo a dilectos aqueles que dela se servem e nada dando em troca a outros como estes, que na Guiné deixaram o bem supremo da sua vida.
Mas se isto é uma vergonha, Portugal também não pode esquecer a miserável entrega que fez, a uma morte certa, daqueles africanos que combateram convencidos que eram portugueses.
«24 Horas» de 5 de Janeiro de 2009

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3 Comments:

Blogger Teófilo M. said...

Diga-me só uma coisa por favor, esteve na guerra colonial?

Se não esteve, sou até capaz de entender o que escreve e que o faz com o sentido do dever e choque que a situação lhe causa.

Se esteve, a conversa, obviamente será outra.

8 de janeiro de 2009 às 01:43  
Blogger Joaquim Letria said...

Não combati na guerra colonial.Todavia, como jornalista, visitei as diferentes frentes Angola, Guiné e Moçambique e em todos esses casos pude estar nos dois lados, fazendo amigos dum lado e do outro.
Isso criou em mim um profundo respeito por quem combateu, obrigado ou por convicção dos dois lados de um conflito que não podia ter solução militar, mas política, como tarde e a más horas acabaram por fazer, com resultados muito tristes para uns e para outros.

8 de janeiro de 2009 às 15:23  
Blogger Teófilo M. said...

Não conheci as três frentes, apenas uma, Angola - ZML.

Nas vésperas de embarque, a Pátria, perguntou-me se desejava ter o meu corpo repatriado em caso de falecimento, decidi pelo não, ciente que já chegava para desgosto da família a ocorrência; fazê-la penar por mais uns meses à espera de um corpo - ou talvez nem isso - para novamente iniciar novo ciclo de luto era insensato.

Creio que a Pátria deveria ter tido mais cuidado com a preservação dos locais onde deveriam ter sido colocados os corpos dos que lutaram em seu nome, mas também imagino a dificuldade de tal empresa, pois casos existiram em que os restos mortais foram enterrados em cemitérios locais, os sob humildes monumentos à recordação da sua presença.

Duvido que, na euforia das independências, a sensatez se tenha sobreposto, na maior parte dos casos, à violência de macabros festejos.

Acredito que há militares e civis, que pensam que os governos saídos do 25 de Abril já deveriam ter feito algo mais no sentido da recuperação desses restos mortais, seguindo a vontade expressa em vida, quer dum lado, quer do outro, e não só na Guiné.

Quanto ao parágrafo final, estamos de acordo na generalidade, pois aí há culpados, e sabe-se quem foram, não deverá ser Portugal a arcar com as culpas, mas pode pedir desculpa pelo que alguns portugueses fizeram.

Cumprimentos

8 de janeiro de 2009 às 19:12  

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