Gravar Zeca por cima de Ravel
NESSE TEMPO, há precisamente 35 anos, ainda conservava o hábito, que me ficara da juventude, de estudar até tarde, pela noite fora, com música de fundo num rádio-gravador portátil. Fora assim também em Paris, na preparação do doctorat en Sédimentologie e, mais tarde, em Lisboa, com a redacção da tese que me casou com a Universidade. Era o contrário do que faço agora, que acerto o horário pelo das galinhas, sendo na solidão e no sossego da madrugada que gosto de escrever. De igual entre esse tempo e o de agora, só a rádio com música de fundo.
Se fosse hoje, tinha sido dos primeiros a ouvir o comunicado do Movimento das Forças Armadas, que viria a chamar-se Movimento dos Capitães. Mas ouvi “E depois do Adeus”, pelo Paulo de Carvalho, por mero acaso, numa daquelas muitas rodagens do botão do condensador, em busca do tal fundo musical. (...)
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