23.6.09

Obras

Por João Paulo Guerra

Lisboa e arredores, como eventualmente grande parte do país, estão transformados em estaleiros de obras, neste ano de eleições triplas. Santa Engrácia é a padroeira em Portugal das obras a mais e das derrapagens orçamentais.

E AS OBRAS ARRASTAM-SE sem ter em conta quer os gastos suplementares das derrapagens no tempo e no custo, quer os incómodos para os cidadãos e os prejuízos para a economia. A inauguração a tempo das eleições dá no entanto uma imagem da propaganda que vale mais que mil palavras de protesto.

Agora o que se discute é a oportunidade e o centro de decisão das grandes obras públicas estruturantes para o futuro do país. O futuro de Portugal em democracia tem sido sempre determinado pelas eleições seguintes. Faz-se mais uma ponte, mais uma auto-estrada, como se tudo isto fosse uma soma de decisões isoladas. E hoje o país é uma manta de retalhos sem ponta de estratégia. A par de um interior desertificado e deprimido, há auto-estradas às moscas e auto-estradas paralelas a outras auto-estradas, numa demonstração do peso do betão na democracia portuguesa. Um peso tal que arrasta a democracia para o fundo e a submerge acorrentada a uma sapata de cimento.

A magna questão das obras é estratégica mas a discussão mais parece uma arrematação de interesses entre o PS / Ruquita-Feirense e o PSD / Garcia Joalheiros, ou vice-versa, para usar uma terminologia que se celebrizou no ciclismo. Mas para além disso há a questão da calendarização das obras, arrastando-as ou acelerando-as em função do calendário eleitoral. E no entanto seria fácil aos eleitores identificarem e sancionarem os responsáveis pelos atrasos, incómodos e gastos das obras a mais: são aqueles que vão protagonizar a inauguração da obra.

«DE» de 23 de Junho de 2009

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