Rasgar o cartão de sócia

Por Joaquim Letria

SE FIZÉSSEMOS como a Maria João Pires e nos fôssemos embora carregadinhos de razão para rejeitar a nossa nacionalidade, já Portugal tinha escritos, à procura de quem quisesse para aqui vir fazer deste belo sítio um razoável país.

Eu compreendo o seu estado de espírito, a ser verdade o seu desabafo numa breve conversa de centro comercial. E digo mais: nem sequer é original, se pensarmos na desistência de José Saramago, nas desculpas de António Damásio para ficar lá fora a estudar a cabecinha da gente, nas razões de Paula Rego para continuar a pintar em Londres, no porquê de Anabela Chaves trocar Lisboa por Paris para a sua viola de arco, nas vantagens de Fardilha e Chaminé viverem e trabalharem em Milão.

Uma coisa é a gente escolher um sítio onde nos tratem melhor e ficarmos onde nos sentimos bem. Outra, é rasgar o cartão de sócio e não querer pagar mais quotas, que é o que dizem que Maria João Pires quer fazer.

Todos os nossos grandes foram tratados “a coice e pontapés”. Este governo tratá-la assim é sina de todos nós. Os meninos de Belgais precisam de si, mesmo tendo-lhes levado o autocarro e ficado sem pianos. E nós ficamos todos orgulhosos por a Maria João ser uma de nós!

«24 horas» de 7 de Julho de 2009