«Como seria de esperar» - Porquê?!
ESTA ANEDOTA, de 1944 ou 1945, calha bem para acompanhar uma curiosa notícia, que se pode ler [aqui], e que, por sua vez, é pretexto para um passatempo com prémio:
A ideia é desafiar os leitores a comentarem esse fait-divers, tendo em conta a impunidade do indivíduo em causa, e especialmente o final da notícia, onde se lê:
«...o suspeito acabou por ser detido e notificado para comparecer ontem de manhã no Tribunal de Lagos. Mas, como seria de esperar, faltou».
A ideia é desafiar os leitores a comentarem esse fait-divers, tendo em conta a impunidade do indivíduo em causa, e especialmente o final da notícia, onde se lê:
«...o suspeito acabou por ser detido e notificado para comparecer ontem de manhã no Tribunal de Lagos. Mas, como seria de esperar, faltou».
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O prémio, a atribuir ao autor do melhor comentário que seja feito até às 20h do próximo dia 3, será um exemplar de Um Embuste Perfeito, de Italo Svevo.
Actualização (4 Ago 09/11h35m): o júri decidiu atribuir o 1.º prémio a Dana_Treller e o 2.º a Carlos Antunes.
Actualização (4 Ago 09/11h35m): o júri decidiu atribuir o 1.º prémio a Dana_Treller e o 2.º a Carlos Antunes.
8 Comments:
A notícia tem uma curiosidade adicional:
Depois de contar o que o indivíduo FEZ, o redactor da notícia refere-se a ele como O SUSPEITO...
Aqui deixo uma forma original de ver o problema:
Se um indivíduo se dispõe a comer sem pagar, então é natural que escolha um bom restaurante (ou um em que se coma bem).
Assim, os que são vítimas desses espertalhões, se não conseguirem reaver o dinheiro, poderão, ao menos, jogar com esse facto:
«O nosso restaurante é tão bom, que é o escolhido pelos 'come-à-borla'!»
É, aliás, o que diz o indivíduo da anedota ilustrada.
E a notícia do jornal, ao trazer o nome do restaurante lesado (e até uma foto dele) está a fazer, também, publicidade.
pelo menos eu, em Lagos, fiquei com curiosidade de o conhecer!
Cá para mim, o tipo estava feito com o dono do restaurante. Quanto custaria em publicidade? eE com que resultados? Quando for a Lagos (o que espero acontecer ainda este Verão), vou também procurar o restaurante, que até nem parece caro.
A mim parece-me uma nova forma de prover o menu, na noticia até encontramos descrito o que comeu e o valor pedido. Impunemente ficou, e assim continuará, pois a preocupação da noticia não foi a de dar a conhecer o indivíduo mas sim o restaurante.
Só a publicidade que o restaurante teve e a curiosidade que por certo levará alguns leitores a quererem ir lá comer (afinal a conta não é nada de mais tendo em conta o que o indivíduo comeu), já cobre o prejuízo pela certa.
Mas o mais engraçado é que depois de ter comido o que lhe ia na vontade, regado bem a comida (até pediu digestivo) o indivíduo não é culpado, mas apenas suspeito na opinião do jornalista! Suspeito de quê?! De se ter esquecido do multibanco? De ser mais espertalhão que os outros? Ora.... ora! Como se costuma dizer... o mundo é dos espertos não dos inteligentes!
Abordemos a questão de uma forma diversificada (e divertida).
Pensemos primeiro como o suspeito.
Ele cometeu um delito, mas onde está a prova?
Toda a comida (roubada?) está agora muito bem digerida, pelo que não será possível provar que o senhor consumiu fosse o que fosse, por isso para que iria ele aparecer no tribunal?
Pensemos agora como um "bom garfo".
É que 20€ pelo repasto não fica nada caro e, se a comida for boa, garanto que tentarei passar por este restaurante, garantindo no entanto que não vou sair sem pagar.
Pensemos ainda como um consumidor atento e reincindente.
Já houve um restaurante que me tentou fazer pagar sem comer. Mais do que um, até, mas neste em que penso foi escandaloso a quantidade de comida que me creditavam sem me terem servido.
Ora, se o restaurante pode tentar tal esquema, porque não posso eu também?
Ou, neste caso, o senhor "hippie dos anos 60" (bela descrição, sim senhor, isto é que é profissionalismo e do bom!). Alguém lhe perguntou se já tinha pago sem comer?
Pensemos, já agora, como leitores críticos.
Quando leio "sendo os seus principais alvos restaurantes e pensões um pouco por todo o País, mas sobretudo em Lisboa, Amadora e Algarve (onde já teria feito o mesmo em Tavira)." a primeira sensação que tenho é a de que o Algarve é um pequeno lugarejo, todo igual e concentrado, equivalente a Lisboa ou à Amadora.
Mas o senhor escolheu o Algarve como ponto preferencial para as suas burlas, afinal, "já teria feito o mesmo em Tavira".
Portanto, concluo, que o burlão não faz isto assim tantas vezes, pois tendo-o feito duas vezes no Algarve representa já uma das zonas em que mais atacou!
Se pensarmos, e para finalizar, como guia turístico, podemos concluir que o senhor tem vindo em viagem desde a sua terra natal (no norte do país, adivinhamos), passou alguns dias em Lisboa (tendo sido obrigado a reincidir no esquema para não passar fome) e vai agora em direcção às praias de Espanha para passar a última semana de férias (conclusão a que chegaremos facilmente se ele adicionar Vila Real de Santo António à sua lista).
Provavelmente vai voltar por Mértola, Beja, Évora e depois Castelo Branco antes de atravessar a Serra e eventualmente entrar em Trás-os-Montes.
Fica o aviso.
E se eu quisesse encontrava mais 3 ou 4 formas de olhar e me divertir com esta situação, mas vou andando que me vai dando a fome!
"Foi no Cantinho do Mar
Que em Lagos fui almoçar,
Era um lugar agradável,
Com comida saudável
E boa bebida para a regar.
Depois de bem enfardar,
E umas "bifas" galantear,
Achei que me fazia bem caminhar.
Como não me apeteceu pagar
Levantei-me e pus-me a andar.
Qual não foi o meu espanto
Quando me batem à porta em pranto
Uns bófias a disparatar.
Parece que naquele lugar
Sair da tasca sem pagar
Dá direito a ocupar
Umas horas do Juiz.
O que me havia de acontecer...
Já não pode um gajo comer
E ir para casa descansar;
Vêm uns polícias dizer
Que perante o Juiz tenho que comparecer!
Era só o que faltava...
Vou mas é fazer-me à estrada
Pois há-de haver à beira-mar
Muito mais onde ficar
Sem a bófia a mim colada!"
E foi assim que nesta história,
Sem nenhum herói nem glória,
Como seria de esperar,
Todos ficaram a ganhar!
Ver a decisão do júri em "actualização"
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