9.9.09

O desastroso e o desagradável

Por Joaquim Letria

AO FIM DE QUASE seis anos sem pôr os pés na Casa Branca, o presidente Mubarak acabou por se sentar na Sala Oval a conversar com o presidente Obama. O presidente do Egipto não ia a Washington por causa da conduta americana no Iraque, naturalmente. Talvez por isso as honras foram a dobrar, porque o presidente americano precisa de Mubarak para o processo de paz do Médio Oriente e quer descansar das agruras do debate sobre a saúde pública.

As atenções de Obama para com Mubarak valeram ao presidente americano críticas de valorizar ditadores,depois de ter recebido os líderes da China, da Rússia e da Arábia Saudita. Isto custa a Obama a fama de preferir a “realpolitik”. Se somarmos a esta conclusão o elogio rasgado de Henry Kissinger, conselheiro de Nixon e Ford e ele próprio um defensor da “realpolitik”, podemos concluir que o elogio de Kissinger a Obama foi o abraço do urso ao presidente.

Parece imprescindível, nestes nossos tempos, que a vocação de diálogo e de convergência se não confunda com a concordância com excessos alheios. Mas a ideia de se falar com todas as partes não deveria ser censurada. John Kenneth Galbraith corrigiu a célebre citação de Bismarck, garantindo que “a política não é a arte do possível”. Galbraith preferia que a política consistisse “na escolha entre o desastroso e o desagradável. ”Como nós, portugueses, estamos de acordo!

«24 horas» de 9 de Setembro de 2009

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