5.10.09

O que tem de ser tem muita força

Por Ferreira Fernandes

REBELO DA SILVA era um romântico. Em 1848 - estava Karl Marx a publicar O Manifesto Comunista - Rebelo da Silva escrevia sobre as trombetas e as charamelas da praça de Salvaterra, os veludos do conde dos Arcos a cavalo, a dama que num camarote escondia as rosas vivíssimas do rosto, o touro negro que investe e espera que o corpo ferido do conde lhe entre nos cornos, a dor do velho marquês de Marialva, que vinga a morte do filho, e o rei D. José que toma uma decisão. Disso Rebelo da Silva escreveu um texto célebre: A Última Corrida de Touros em Salvaterra (*). Claro que não foi a última, era conversa de romântico...

Herdeiro do Manifesto de Marx, o Bloco de Esquerda fez um programa eleitoral em que diz o que lhe repugnam as touradas. O BE tem uma única câmara e, essa, é a de Salvaterra de Magos. É no Ribatejo, a sua festa maior é dos Toiros e do Fandango, e os seus doces mais conhecidos são os barretes. Qual o espectáculo preferido da presidente da vila, Ana Cristina Ribeiro, que é do BE? Touradas.

Há quem veja contradição nisto. Eu prefiro ver a confirmação do provérbio quioco: "As águias voam alto mas têm de baixar para comer". Isto é, Ana Ribeiro só é, nisto, o que o BE há de ser, no resto, quando for preciso.

«DN» de 5 de Outubro de 2009.
(*) - Pode ser lido, p. ex., [aqui].

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