7.11.09

Pedras que fazem um pedestal

Por Ferreira Fernandes

NO DEBATE PARLAMENTAR desta semana, José Sócrates lançou a Pacheco Pereira: "Uma vez revolucionário, revolucionário toda a vida." Esse anátema é duplo erro. O primeiro, porque crítico: "Uma vez revolucionário..." - sim, José Pacheco Pereira, nos seus vinte anos, foi militante do PCP (m-l), partido maoísta. Um país é ele, mais as suas circunstâncias.

No fim dos anos 60, começos de 70, quase todos os portugueses, apesar de espoliados da cidadania, aceitavam o seu país inviável e sufocante. Aquele PCP (m-l) tinha ideias erradas, mas os seus jovens militantes eram - pelo simples facto de não aceitarem essa modorra - de uma generosidade que junta à de alguns outros portugueses (não tantos assim, uma minoria) trouxe a democracia a todos.

O segundo erro de José Sócrates é factual: "(...) revolucionário toda a vida" - não, Pacheco Pereira não persistiu no erro de ser maoísta. Foi, até, dos primeiros da sua geração a cortar com a via revolucionária. Fê-lo de forma pública e persistente, o que o obrigou a uma coragem moral (e até física) que talvez hoje não se entenda ser necessária, mas que sim, era. Havendo tantas razões, digo eu, para Pacheco Pereira ser politicamente criticado, calharam-lhe, afinal, ataques que só o honram.

«DN» de 7 de Fevereiro de 2009

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1 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Em matéria de "ex" e de "passados revolucionários", temos o Santos Silva (ex-MES), Maria de Lurdes Rodrigues (ex-anarquista), Ana Gomes (ex-MRPP), Mário Lino, José de Magalhães e tantos outros!(ex-PCP)...

O próprio Sócrates também tem um passado "extra-PS", mas não tão revolucionário como os referidos, pois entrou para a política... pela JSD.

8 de novembro de 2009 às 12:36  

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