29.12.09

O epitáfio

Por Joaquim Letria

O EPITÁFIO É O CÚMULO da vaidade. O epitáfio é o cartão de visita daqueles que se despedem.

Isabel I de Inglaterra quis que o seu epitáfio “sucintamente recordasse o meu nome, a minha virgindade, a duração do meu reinado, as reformas com que contribuí para a religião e a salvaguarda da paz”. Instruções deixadas em testamento.
Já o Imperador José II da Áustria reconhece no seu epitáfio as suas desditas sem fim, não se atemorizando a gravar na pedra aquilo que lhe marcou a existência: “Aqui jaz José II que foi desgraçado em todas as suas empresas”.

Passear num cemitério não será passatempo que se recomende, mas a verdade é que se vem de lá enriquecido e divertido. O homem é tão néscio que, muitas vezes, depois de morto, pretende continuar a enganar os vivos como se estes fossem todos parvos.
Giovanni Mosca sonhou com a impossível sinceridade: ”Nas lápides só se escrevem mentiras. Se alguém tivesse a coragem de escrever “Fulano de tal, sem Vergonha”, naturalmente que uma onda de sinceridade se abateria sobre os cemitérios e os homens passavam a morrer com medo dos seus defeitos ficarem eternizados em pedra.

Por a morte ser o grande problema dos vivos, os cemitérios também são conhecidos por “Quintas das tabuletas” e estão transformados em parques enciclopédicos, carregados de epitáfios cheios de vaidade, exagero e falta de vergonha.
«24 horas» de 29 de Dezembro de 2009

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2 Comments:

Blogger Fernando Correia de Oliveira said...

a cremação tem grandes vantagens! acabei de descobrir mais uma.

29 de dezembro de 2009 às 19:20  
Blogger Táxi Pluvioso said...

Os mortos são coisas de vivos, para eles, os mortos, não lhe aquece nem arrefece.

UM BOM ANO PARA TODOS

30 de dezembro de 2009 às 07:41  

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