18.12.09

Piratas com direito a reforma

Por Ferreira Fernandes

CADA ÉPOCA deveria dar o seu contributo para que Hollywood possa continuar a fazer-nos sonhar. Como pensam que se inventou a pala preta, a mão de gancho e a perna de pau dos piratas? Bebeu-se na realidade do corsário Sir Francis Drake, do Barba Negra, do pirata John Rackham, do bucaneiro Henry Morgan.
O destino de um pirata nunca foi a reforma tranquila, contando aos netos aquela vez em que o galeão do conde da Ericeira foi abalroado no porto de Saint-Denis. Quando, em 1566, a cidade do Funchal foi assaltada pelo flibusteiro Monluc, o piloto deste era português. Apanhado, foi enforcado em Lisboa.
Aos piratas tirava-se-lhes um olho, decepava-se uma mão, cortava-se uma perna. Daí o folclore, cujo único atavio indolor era o papagaio ao ombro. Ganhou o cinema.
Infelizmente, os dias de hoje já não alimentam essas tradições. No começo de Dezembro, uma fragata holandesa aprisionou 13 piratas somalis no oceano Índico. Libertou-os ontem - nenhum país aceitou julgá-los. Como poderá Hollywood sobreviver a esta sensaboria? Felizmente, ainda há o adolescente que tirou da Net o último disco dos Black Eyed Peas. O seu julgamento - do único pirata dos tempos modernos a ser julgado - será a emoção a que temos direito.
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«DN» de 18 Dez 09

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