4.3.10

O minuto de silêncio

Por Joaquim Letria

JÁ DEVEM ter reparado que os portugueses aboliram o minuto de silêncio. Quando morre alguém, um actor, fadista, cómico, escritor, ou há tempestades assassinas na Madeira ou cai a ponte de Entre-os-Rios, os que fazem questão de ir aos funerais, bem como as modernas carpideiras, batem palmas.
Se a Federação ou a Liga de Futebol pede um minuto de silêncio para todos se recolherem e elevarem um pensamento àqueles que partem, e assim homenagearem a sua memória, parece que foi golo! Aplaudem todos, minha gente, até o árbitro voltar a apitar e o respeitável regressar aos insultos.
O minuto de silêncio é algo lindo. Aquele silêncio “que se ouve”, num estádio, num teatro, num polidesportivo apinhado não tem igual nem equivalente. Ao contrário, estas palmas de hoje parecem dizer “morreste em beleza”, ”ainda bem que foste, pá!”, ”Boa! Gostámos muito!”
Só vejo uma vantagem nas palmas de luto num estádio: não se ouve a má-criação do pessoal, nem as obscenidades, nem as assobiadelas que se escutam, por exemplo, quando tocam os hinos nacionais dos nossos adversários. Enfim, coisas que se aprendem em casa e na escola. E hoje não se pode ensinar tal coisa porque, num sítio e no outro, só se sabe bater palmas.
«24 horas» de 4 Mar 10

Etiquetas:

1 Comments:

Blogger António Viriato said...

Bem dito, caro Joaquim Letria. Já valeu a pena ter hoje passado por aqui.

Este costume idiota de bater palmas nos funerais, nos cemitérios, dentro das Igrejas, com a aquiescência dos responsáveis, ofende a sensibilidade de muitos que não aprovam tudo na base da modernidade, antes persistem em inquir da razão que lhe subjaz.

Pode ser que este princípio tenha caído em desuso, mas o que surgiu em seu lugar, na verdade, só nos degrada, sobretudo quando não se vê ninguém com vontade de resistir a esta enxurrada de disparates e desconcertos.

Por isso, cabe saudar sempre que se encontra um resistente.

Que a mão não lhe pese, para escrever deste tipo de crónicas.

Bom início de semana.

7 de março de 2010 às 22:44  

Enviar um comentário

<< Home