Ocidental Praia Lusitana
Por Manuel João Ramos
"UM POVO IMBECILIZADO E RESIGNADO, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas;
Um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom,e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."
Guerra Junqueiro, 1896.
"UM POVO IMBECILIZADO E RESIGNADO, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas;
Um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom,e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."
Guerra Junqueiro, 1896.
Etiquetas: conspiração de estúpidos, Guerra Junqueiro, MJR, Portugal
5 Comments:
Excelente.
Afinal, a tradição ainda é o que era.
Para mal dos nossos pecados.
DN de hoje: Um grupo de piratas sequestrou ontem uma embarcação pesqueira com bandeira do Quénia e capitão luso-português, ao largo da costa da Somália. Segundo o El País, a tripulação do Sakoba é composta por 20...
Vejam bem, luso-português!
Actualíssimo!!!
RM, luso-português é bem o espelho da Educação deste país - porque, creio, um jornalista tem formação superior, não tem?
Ja os ouvi dizer deSmérito, planeJar, e outras pérolas do género. Enfim, era dar-lhes tantos pontapés quantos os que vão dando na língua "luso-portuguesa".
:(
Caro CGMaciel, neste momento, pelos vistos, já houve uma alma caridosa que por especial favor se encarregou de corrigir a asneira. Bem prega o Medina Ribeiro, mas de pouco valem as reprimendas. Eu, sem querer ser saudosista, proponho o afastamento dos actuais professores do 1.º ciclo e que os lugares, por estes deixados vagos, sejam ocupados pela minha querida professora da velhinha escola «primária», e outras senhoras professoras formadas no defunto Magistério. Porém, parece-me que nem mesmo ela, com a sua malvada régua, conseguiria que os erros dos nossos licenciados em jornalismo desaparecessem da maltratada prosa dos jornais. Abraço
Caro RM, a minha professora – senhora, como lhe chamávamos – também daria belas reguadas e poria estes senhores a escreverem sete a dez vezes a palavra já corrigida.
Conheci o toque da régua, mas era mais pela velhinha aritmética – que o Nuno Crato não me leia – apesar de alguns percalços no português… ainda hoje, valha-me Deus e louvados sejam aqueles que me corrigem pois continua a ser a melhor forma de aprender.
:)
Abraço
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