29.4.10

Doutor da vida

Por Joaquim Letria

DEI AULAS numa universidade donde saíam autocarros com professores que iam a Espanha fazer doutoramentos. Gentis, perguntavam-me se queria aproveitar as camionetas. Eu explicava que Espanha, para mim, é Chinchon, Jerez, orchata, bombazine, caramelos e touros miúra e vitorinos, fritadas na praia de San Lúcar de Barrameda, ovos revueltos na Casa Lúcio, angulas em San Sebastián.
Doutoramentos a sério fazem-se cá ou em Inglaterra, Paris ou Berlim. É uma mania minha!
A diferença é que hoje eles são Doutores por extenso e com maiúscula e eu continuo com o papinho cheio da minha Espanha querida. Muitos deles até compraram e venderam teses na Internet, plagiaram à tripa forra, não tarda mandam no ministério e progridem nas carreiras.
Mas eu ganhei com a troca.Venci em toda a linha, pois não conhecem as montanhas das Astúrias, nem a Euskadi, nem as marés nem os ribeiros galegos, nunca viram o céu de Navarra nem navegaram em iates, com partida e chegada em Puerto Banús, nem andaram em cargueiros com escala em Santa Maria.
Continuo a fazer os meus doutoramentos da vida. Na longínqua Ásia, na vizinha Espanha, na amada França, na estremecida Alemanha. Em Inglaterra, também já me doutorei! Mas em futebol e Mourinho foi o meu orientador!
«24 horas» de 29 Abr 10

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3 Comments:

Blogger Bartolomeu said...

Faltou mencionar o "Embrujo de Sevilla" e... as Lolitas... evidentemente.
De resto, totalmente de acordo. Não ha doutoramento que equivala à experiência de vida... aquela adquirida atrvés do tacto, da visão, da audição, do olfato e... do paladar.
E que excelentes paladares se podem conhecer em terras de nuestro ermanitos!!!

29 de abril de 2010 às 11:40  
Blogger Catarina said...

:)))))))))

29 de abril de 2010 às 12:20  
Blogger GMaciel said...

Inspirador, Doutor Joaquim Letria. E duvido que alguém lhe leve a palma neste capítulo.

29 de abril de 2010 às 13:54  

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