O 10 de Junho e a memória da ditadura
Por C. Barroco Esperança
PARECE QUE É a nossa vocação mórbida que conduz à celebração da morte em vez da exaltação da vida e à perpetuação das piores memórias da ditadura para alimentar rituais que a higiene democrática já devia ter banido.
Exumam-se os hábitos e tiques do salazarismo para ornamentar com veneras os peitos disponíveis das celebridades autóctones, algumas só conhecidas da família, dos amigos, do partido e dos negócios.
Vestem um fato de cerimónia, põem um ar grave e lá esperam que o nome seja citado para oferecerem o pescoço ao nastro, o peito à venera e as costas aos abraços.
É assim todos os anos e não se nota a ausência do Tomás. Faltam apenas as viúvas, os órfãos e os estropiados que davam à cerimónia o ar lúgubre da tragédia que teima em perseguir-nos e do ritual que não há coragem para mudar.
Mantém-se o presidente e os carregadores que transportam as medalhas, os figurantes e figurões que desfilam no ecrã das televisões, as vaidades reprimidas e as cumplicidades. (...)
PARECE QUE É a nossa vocação mórbida que conduz à celebração da morte em vez da exaltação da vida e à perpetuação das piores memórias da ditadura para alimentar rituais que a higiene democrática já devia ter banido.
Exumam-se os hábitos e tiques do salazarismo para ornamentar com veneras os peitos disponíveis das celebridades autóctones, algumas só conhecidas da família, dos amigos, do partido e dos negócios.
Vestem um fato de cerimónia, põem um ar grave e lá esperam que o nome seja citado para oferecerem o pescoço ao nastro, o peito à venera e as costas aos abraços.
É assim todos os anos e não se nota a ausência do Tomás. Faltam apenas as viúvas, os órfãos e os estropiados que davam à cerimónia o ar lúgubre da tragédia que teima em perseguir-nos e do ritual que não há coragem para mudar.
Mantém-se o presidente e os carregadores que transportam as medalhas, os figurantes e figurões que desfilam no ecrã das televisões, as vaidades reprimidas e as cumplicidades. (...)
Texto integral [aqui]
Etiquetas: CBE
1 Comments:
Obrigada pela sua clareza de espírito, pelo seu olhar de rosto lavado e por partilhar connosco o que se adivinha ter sido difícil de pôr em palavras.
Obrigada.
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