17.7.10

Álibis

Por Joaquim Letria

UM AMIGO meu, que é tipógrafo, diz que leva sempre um exemplar do jornal onde trabalha «para mostrar em casa à mulher que esteve a trabalhar durante o dia».
Um pescador, que conheço, também costuma passar pelo mercado, não para se gabar das suas façanhas, mas para a mulher não desconfiar de que não foi à pesca.
Um calceteiro, com quem falei há tempos, confessou-me que leva diariamente uma dor de rins para casa a fim de a mulher lhe não fazer cenas de ciúmes.

Aquele provador de vinhos, que encontrei, explicou-me também que nunca lavava os dentes antes de a mulher ter a certeza do volume do trabalho que diariamente o avassala.

Outro que tal, era aquele noticiarista que antes de ler as notícias ao microfone dizia: «Olá, querida!»

Não há dúvida que há mulheres ciumentas e maridos que não querem problemas em casa. Penso, no entanto, que os homens abusam.
Os casos que citei são bons exemplos de homens felizes. O seu trabalho faculta-lhes o álibi que as respectivas mulheres exigem.
Agora, se vocês são meus amigos, digam-me: Acham, francamente, que a minha mulher vai acreditar que levei todo o dia para escrever isto?

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8 Comments:

Blogger R. da Cunha said...

Resposta à pergunta formulada: sim, se for ingénua (o que nem será provável).

17 de julho de 2010 às 12:24  
Blogger Bartolomeu said...

Partindo do pressuposto que a mulher de cada um, está ao fim do dia, realmente interessada em saber a quantidade de trabalho que o marido produziu.
Pelo sim, pelo não, no final de cada dia de trabalho, levo sempre para casa uma imensa vontade de fazer amor com a minha mulher... ela imagina que aquilo que motiva a minha vontade, é o facto de se manter acesa a chama da nossa paixão. Eu... estou cá desconfiado que tanto "tesão" se fica a dever ao decote e à mini-saia da minha colega Josefina... aquele bom-bomzinho de 22 aninhos que passa o dia a solicitar-me ajuda para lhe desencravar a impressora...

17 de julho de 2010 às 12:54  
Blogger Jorge Manuel Brasil Mesquita said...

O meu caro Senhor Joaquim Letria está, indisfarçavelmente, a falar de produtividade e de competitividade à sucapa. Eu cá por mim justificava tudo com o tempo que levava a imaginar a construção de cada parágrafo, com um intervalo para o almoço, e com um lanchinho de permeio. Os parágrafos, apesar de curtos, obrigaram a uma aturada pesquisa e isso leva-me a ter dúvidas que o meu caro Senhor Joaquim Letria tenha conseguido fazer o artigo todo num simples dia de trabalho complicado. Escolher palavras, colocá-las no sítio exacto, as vírgulas e toda essa panóplia de sentidos obscuros que se encontram nas entrelinhas de todo o texto. Tal e qual me sucedeu com este comentário o meu caro Senhor Joaquim Letria deve ter suado estopinhas para ainda no final do artigo ter andado a contar todas as palavrinhas, porque senão lá vinha o corte da tesoura. Enfim um ror de trabalhos dentro do mesmo trabalho que convencem plenamente a sua mulher.
Com as melhores saudações cordiais e cordatas para si, meu caro Senhor Joaquim Letria, e para a sua querida esposa, deste
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Lisboa, 17/07/2010
etpluribusepitaphius.blogspot.com

17 de julho de 2010 às 13:51  
Blogger Ribas said...

Ah! Ah! Ah! :- )))
Quem não usa desses expedientes para assegurar a tranquilidade conjugal?
Há sempre uma ocasião na vida em que uma - pedra - se atravessa no habitual caminho do homem casado e o obriga a um inevitável desvio estratégico.
A – pedra – pode ser uma formosa rapariga que, vai-se lá saber porquê engraçou com ele; uma petiscada que se prolonga pela noite dentro, enfim…
Por vezes o desvio, apesar de aparentemente ser grave em si (mais no caso da donzela formosa), não justifica para o homem que o cometeu a crise conjugal que a verdade iria despontar, como tal, um álibi piedoso, omite o acontecimento e poupa ao transgressor semanas de mau ambiente ou coisa pior.

17 de julho de 2010 às 15:06  
Blogger Pedro Barbosa Pinto said...

Precisamos de mais elementos, caro JL... não há marcas de batom no colarinho da camisa?

17 de julho de 2010 às 17:04  
Blogger José Batista said...

Claro que vai Joaquim Letria.
Basta que acrescente que não conseguiu escrever mais porque estava constantemente a pensar nela.
Quanto àquela coisa de um homem estar sempre sujeito a diversas solicitações, convém não esquecer que, ou havia de haver muito mais mulheres que homens ou então força-nos a matemática a admitir que enquanto muitos homens estão a ser alvo de solicitações, podem as "respectivas mulheres" estar a proporcionar a outros solicitações da mesma natureza. A biologia é a biologia... Até Carl Sagan afirma, em "Sombras de antepassados esquecidos", Gradiva, página 193, que pode ser de 40% o nº de indivíduos que chama pai a alguém que não o é em termos genéticos...
Ah, pois é...
Agora, muitos homens gostam de ter a ideia de que conseguiram enganar a "sua mulher". E muitas mulheres são peritas em fazer de conta que não percebem que estão a ser enganadas. Melhor melhor (ou mal por mal?)talvez seja culpar a testosterona...

17 de julho de 2010 às 23:04  
Blogger José Falcão said...

Há mulheres que acreditam em tudo.
Cada vez menos, é verdade, para mal dos nossos pecados.
Comentário a comentário: Bartolomeu, como eu o compreendo! Oh, se compreendo.
Brilhante, o texto dos dois (Letria e Bartolomeu).
Um abraço.

18 de julho de 2010 às 16:03  
Blogger Bartolomeu said...

José Falcão.
Por vezes, a vida é muito mais real, que a fantasia sobre a qual a vamos construindo...
;))

18 de julho de 2010 às 17:23  

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