Álibis
Por Joaquim Letria
UM AMIGO meu, que é tipógrafo, diz que leva sempre um exemplar do jornal onde trabalha «para mostrar em casa à mulher que esteve a trabalhar durante o dia».
Um pescador, que conheço, também costuma passar pelo mercado, não para se gabar das suas façanhas, mas para a mulher não desconfiar de que não foi à pesca.
Um calceteiro, com quem falei há tempos, confessou-me que leva diariamente uma dor de rins para casa a fim de a mulher lhe não fazer cenas de ciúmes.
Aquele provador de vinhos, que encontrei, explicou-me também que nunca lavava os dentes antes de a mulher ter a certeza do volume do trabalho que diariamente o avassala.
Outro que tal, era aquele noticiarista que antes de ler as notícias ao microfone dizia: «Olá, querida!»
Não há dúvida que há mulheres ciumentas e maridos que não querem problemas em casa. Penso, no entanto, que os homens abusam. Os casos que citei são bons exemplos de homens felizes. O seu trabalho faculta-lhes o álibi que as respectivas mulheres exigem.
Agora, se vocês são meus amigos, digam-me: Acham, francamente, que a minha mulher vai acreditar que levei todo o dia para escrever isto?
UM AMIGO meu, que é tipógrafo, diz que leva sempre um exemplar do jornal onde trabalha «para mostrar em casa à mulher que esteve a trabalhar durante o dia».
Um pescador, que conheço, também costuma passar pelo mercado, não para se gabar das suas façanhas, mas para a mulher não desconfiar de que não foi à pesca.
Um calceteiro, com quem falei há tempos, confessou-me que leva diariamente uma dor de rins para casa a fim de a mulher lhe não fazer cenas de ciúmes.
Aquele provador de vinhos, que encontrei, explicou-me também que nunca lavava os dentes antes de a mulher ter a certeza do volume do trabalho que diariamente o avassala.
Outro que tal, era aquele noticiarista que antes de ler as notícias ao microfone dizia: «Olá, querida!»
Não há dúvida que há mulheres ciumentas e maridos que não querem problemas em casa. Penso, no entanto, que os homens abusam. Os casos que citei são bons exemplos de homens felizes. O seu trabalho faculta-lhes o álibi que as respectivas mulheres exigem.
Agora, se vocês são meus amigos, digam-me: Acham, francamente, que a minha mulher vai acreditar que levei todo o dia para escrever isto?
Etiquetas: JL
8 Comments:
Resposta à pergunta formulada: sim, se for ingénua (o que nem será provável).
Partindo do pressuposto que a mulher de cada um, está ao fim do dia, realmente interessada em saber a quantidade de trabalho que o marido produziu.
Pelo sim, pelo não, no final de cada dia de trabalho, levo sempre para casa uma imensa vontade de fazer amor com a minha mulher... ela imagina que aquilo que motiva a minha vontade, é o facto de se manter acesa a chama da nossa paixão. Eu... estou cá desconfiado que tanto "tesão" se fica a dever ao decote e à mini-saia da minha colega Josefina... aquele bom-bomzinho de 22 aninhos que passa o dia a solicitar-me ajuda para lhe desencravar a impressora...
O meu caro Senhor Joaquim Letria está, indisfarçavelmente, a falar de produtividade e de competitividade à sucapa. Eu cá por mim justificava tudo com o tempo que levava a imaginar a construção de cada parágrafo, com um intervalo para o almoço, e com um lanchinho de permeio. Os parágrafos, apesar de curtos, obrigaram a uma aturada pesquisa e isso leva-me a ter dúvidas que o meu caro Senhor Joaquim Letria tenha conseguido fazer o artigo todo num simples dia de trabalho complicado. Escolher palavras, colocá-las no sítio exacto, as vírgulas e toda essa panóplia de sentidos obscuros que se encontram nas entrelinhas de todo o texto. Tal e qual me sucedeu com este comentário o meu caro Senhor Joaquim Letria deve ter suado estopinhas para ainda no final do artigo ter andado a contar todas as palavrinhas, porque senão lá vinha o corte da tesoura. Enfim um ror de trabalhos dentro do mesmo trabalho que convencem plenamente a sua mulher.
Com as melhores saudações cordiais e cordatas para si, meu caro Senhor Joaquim Letria, e para a sua querida esposa, deste
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Lisboa, 17/07/2010
etpluribusepitaphius.blogspot.com
Ah! Ah! Ah! :- )))
Quem não usa desses expedientes para assegurar a tranquilidade conjugal?
Há sempre uma ocasião na vida em que uma - pedra - se atravessa no habitual caminho do homem casado e o obriga a um inevitável desvio estratégico.
A – pedra – pode ser uma formosa rapariga que, vai-se lá saber porquê engraçou com ele; uma petiscada que se prolonga pela noite dentro, enfim…
Por vezes o desvio, apesar de aparentemente ser grave em si (mais no caso da donzela formosa), não justifica para o homem que o cometeu a crise conjugal que a verdade iria despontar, como tal, um álibi piedoso, omite o acontecimento e poupa ao transgressor semanas de mau ambiente ou coisa pior.
Precisamos de mais elementos, caro JL... não há marcas de batom no colarinho da camisa?
Claro que vai Joaquim Letria.
Basta que acrescente que não conseguiu escrever mais porque estava constantemente a pensar nela.
Quanto àquela coisa de um homem estar sempre sujeito a diversas solicitações, convém não esquecer que, ou havia de haver muito mais mulheres que homens ou então força-nos a matemática a admitir que enquanto muitos homens estão a ser alvo de solicitações, podem as "respectivas mulheres" estar a proporcionar a outros solicitações da mesma natureza. A biologia é a biologia... Até Carl Sagan afirma, em "Sombras de antepassados esquecidos", Gradiva, página 193, que pode ser de 40% o nº de indivíduos que chama pai a alguém que não o é em termos genéticos...
Ah, pois é...
Agora, muitos homens gostam de ter a ideia de que conseguiram enganar a "sua mulher". E muitas mulheres são peritas em fazer de conta que não percebem que estão a ser enganadas. Melhor melhor (ou mal por mal?)talvez seja culpar a testosterona...
Há mulheres que acreditam em tudo.
Cada vez menos, é verdade, para mal dos nossos pecados.
Comentário a comentário: Bartolomeu, como eu o compreendo! Oh, se compreendo.
Brilhante, o texto dos dois (Letria e Bartolomeu).
Um abraço.
José Falcão.
Por vezes, a vida é muito mais real, que a fantasia sobre a qual a vamos construindo...
;))
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