27.7.10

Primeiro vá a votos

Por Rui Tavares

PEDRO Passos Coelho propôs uma revisão da Constituição e de repente toda a gente se pôs a falar do conteúdo dessa revisão. (...)

Se de hoje para amanhã, Passos Coelho propuser o relançamento do programa espacial português, incluindo uma missão tripulada a Marte, é possível que todos os outros líderes lhe respondam histericamente, que o primeiro-Ministro convoque o Secretariado Nacional do PS, e que os editoriais levem a ideia a sério, concluindo que se deveria pelo menos fazer uma viagem à Lua. No fim ninguém se lembrará de dizer “relançar? mas nós tínhamos algum programa espacial?”. Na semana seguinte, um tema novo.

O que me espanta é que os outros líderes vão na cantiga, o que me sugere que estão a precisar de férias.

E espanta-me também isto. Neste país onde nenhuma reforma verdadeiramente importante se consegue fazer, os políticos e editorialistas especializam-se em qualquer reforma que venha à rede. Não se resolve o desemprego, a dívida, a estagnação europeia? Reveja-se a Constituição. Ninguém consegue lembrar-se de nenhum problema grave causado pela Constituição? Precisamente por isso, vamos rever a Constituição. Deve ser mais fácil.

É como se eu, por não conseguir consertar o meu esquentador avariado, decidir antes desmontar e arrumar de forma completamente diferente o meu aspirador — que funcionava.

Texto integral [aqui]

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2 Comments:

Blogger GMaciel said...

Eu disse logo que aguardava com expectativa o novo post... e este superou a dita.

:)

Acrescentar o quê? Concordo plenamente com o exposto e... lá está, o que eu dizia: e fazer com que elas ganhem a legitimidade que até agora nunca tiveram. Se falarmos agora na abolição do Sistema Nacional de Saúde, conseguiremos pelo menos a sua amputação, e por aí adiante.

Com a pouca fé que tenho neste povo, estou sinceramente preocupada com o futuro que tudo isto promete.

27 de julho de 2010 às 17:20  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Ainda há dias aqui deixei a minha opinião:

O PSD e a revisão constitucional

A HISTÓRIA da “revisão constitucional” (de que agora tanto se fala e que vai morrer tão depressa como nasceu) parece aqueles paus que atiramos aos cães, para os distrair. Se formos bem sucedidos, eles vão a correr, apanhá-los – e, enquanto andam entretidos com ele, dando ao rabinho, não nos mordem. (...)

27 de julho de 2010 às 17:30  

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