26.1.11

Caixões nunca se tiram da cartola

Por Ferreira Fernandes

TIVEMOS um caso recente, e muito raro, de sucesso. Não seria útil saber como ele aconteceu? Refiro-me, claro, à campanha de José Manuel Coelho. Não falo do resultado - quase 200 mil votos para um completo desconhecido - mas da própria campanha.
1) Ter uma boa ideia fisgada e vendê-la só a ela, não dispersando. Coelho agarrou-se à corrupção, adivinhando um dos motores da indignação dos portugueses, e denunciou-a com a preocupação de não ser vesgo: do PS ao PSD, passando pelo CDS e o PR, nenhum dos que são reconhecidos como exercendo algum poder foi poupado.
2) Para passar a sua ideia, Coelho nunca gritou - lembrem-se da entrevista que deu a uma agressiva Judite de Sousa e ele, neófito com as câmaras, sempre calmo e assertivo.
3) Quem tem tempo tão curto para se dar a conhecer ao País, tem de inventar uma forma de agarrar pelos ombros a atenção dos portugueses. A forma de Coelho foi o humor (de casaco branco, passeia-se com uma coelha negra e quando lhe perguntam porquê, julgando-se que ela era o seu símbolo, ele engrena um discurso sobre a polémica Praia da Coelha, levando água ao seu moinho).
Ideiazinhas simples, qualquer empresa de comunicação envolvia-as em papel de celofane e vendia-as caro. Tendo-as Coelho dado grátis, e já com provas dadas, como é que as escolas privadas cometem o suicídio de defender a sua causa pondo crianças a passear caixões?!
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«DN» de 26 Jan 11

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