16.3.11

Responsáveis

Por João Paulo Guerra

EM POUCAS democracias - excluindo algumas “democracias” carnavalescas - o interesse de grupo se sobrepõe por sistema ao interesse geral. Em Portugal a regra funciona ao contrário: qualquer quintalório, logradouro, pardieiro ou baldio se acavala sobre o País. E é assim que, a braços com uma crise financeira, económica e social de dimensões e consequências tremendas, os responsáveis se atiram de cabeça para uma crise política: é tudo aquilo que Portugal não só não precisava como teria que evitar a todo o custo. Nas mãos da especulação e da agiotagem dos mercados, a precisar de injecções de confiança como de pão para a boca, Portugal vai colocar no tabuleiro deste jogo sinistro a maior de todas as incertezas, os resultados eleitorais, e parar o cronómetro por uns meses.

A questão é que a responsabilidade em Portugal é de todo irresponsável. Chegados ao poder - e a oposição também é poder - os políticos colocam-se acima das responsabilidades e atrevem-se, com garantia de total impunidade, a fazer rodar a roleta russa com o cano da arma apontado à cabeça do País. Porque, aconteça o que acontecer, aos fautores das crises não acontecerá nada. Nenhum político será responsabilizado por ter colocado o País à beira do abismo financeiro, nem por ter dado o seguinte passo político em frente. E dando o passo em frente não será ele que cai mas o País.

A luta de galos em curso tem dois concorrentes para o mesmo poleiro, ambos oriundos da JSD. E enquanto os portugueses apertam mais uns furos no cinto, muitos enfrentam a miséria, outros tantos experimentam o desemprego, a precariedade, a fome, estes dois entretêm-se com jogos de poder. Porque sabem que a um deles vai sair a sorte grande. Mas o outro terá sempre a aproximação.
«DE» de 16 Mar 11

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