15.3.11

Sim ou sopas, Coelho e Sócrates?

Por Ferreira Fernandes

OS PORTUGUESES eram assim: "Larguem-me, que eu mato-o!"
Ainda me lembro de ter cruzado cenas dessas, um tipo gritava a sua indignação contra outro, com este pormenor: ninguém o agarrava... Quer dizer, mesmo quando não se queria (ou não podia) bater no outro, gritava-se que sim.
Hoje é ao contrário. Nem Passos Coelho diz: "Sai-me da frente!" Nem José Sócrates provoca: "Avança se és homem..." Hoje, a táctica generalizada é nunca por nunca mostrar à multidão que se tomou a iniciativa da porrada, ou da "crise política" para ser mais preciso. Tudo, menos passar por ser aquele que deu o primeiro passo...
Não tenho saudades das cenas ridículas de outrora, mas também não sou adepto da hipocrisia actual. Chegados ao que chegamos, às sucessivas e obsessivas meias picardias ("porque uma picardia inteira ia pôr o povo pensar que fui eu a tomar a iniciativa..."), tornou-se necessário um sim ou sopas. Neste momento - tradução deste momento: aquele em que o PS e o PSD, com tanta crise na boca, parecem não se dar conta da responsabilidade que ela lhes traz -, neste infeliz momento, só resta provocar a crise. O PS com uma moção de confiança ou o PSD com uma de censura. A maioria relativa (e será só ela, o prémio...) que um ou outro terá nas próximas eleições talvez dê aos dois a noção de Estado que a ambos agora falha. Eles que pedem tantos sacrifícios talvez aceitem o de se aturar um ao outro.

«DN» de 15 Mar 11

Etiquetas: ,