15.5.11

Não somos belgas

Por Ferreira Fernandes

APARECEU a sondagem n.º X, com o PSD à frente. Junto ao CDS, faz a maioria absoluta.
Apareceu a sondagem n.º X+1, com o PS à frente. Junto ao CDS, faz a maioria absoluta.
Como estagiários de Medicina perante um caso de carcinoma raro, jornalistas, analistas e politólogos debruçam-se sobre o paciente, encantados com as prometedoras e estranhas perspectivas. Se o líder Fulano é derrotado, sai, para novo líder são tantas semanas, congresso e tal, e o novo Governo à espera... Se o líder Sicrano é derrotado, haverá coligação, mas resvés Campo de Ourique...
Vêem-se mãos a torcerem-se impudicas de prazer, quase se ouvem as papilas gustativas a produzirem saliva: hmm, que semanas empolgantes vêm aí...
Na outra noite, no Expresso da Meia-Noite, SIC-N, onde se debatia este case study, um homem lúcido, Pedro Magalhães, a nossa maior autoridade em sondagens, teve de ordenar "pára o baile!" perante este frenesim cínico. Ele, que era o especialista que podia extasiar-se com as múltiplas probabilidades que os números anunciam, não foi por aí: apontou o quase cadáver, Portugal. Senhores, a questão é: temos de ter um Governo, logo e forte - cortou ele. E eu estou com ele, como estou com Pacheco Pereira e os poucos que guardam o bom senso. Não somos belgas, não podemos dar-nos ao luxo de não ter Governo. CDS, PS e PSD (não importa como baralhados), têm de o fazer. Ponto.
«DN» de 15 Mai 11

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