Regime
Por João Paulo Guerra
OS JORNAIS de ontem constatavam, candidamente, que a intervenção do FMI e seus parceiros em Portugal resultou mais moderada quanto ao corte do défice e mais radical nas reformas estruturais. Ou seja: o défice foi o pretexto, a mudança do regime foi o objectivo. As agências de rating forneceram o pretexto. Ora as mudanças de regime feitas por qualquer modalidade que não passe pelo sufrágio têm uma denominação particular: designam-se por golpes de estado.
No caso português em apreço, não se tratou de alterar os órgãos de poder pois isso não era necessário: a mudança de regime deu-se a pedido do Governo, com o aval do chefe de Estado e o visto da oposição de direita. Tratou-se de alterar o quadro das políticas que os governantes seguintes vão gerir. Oportunamente, uma revisão da Constituição dará os factos por consumados e consagrará as alterações. Perante o que o FMI e seus comparsas decidiram, e o poder aceitou, não fará sentido continuar na Constituição que Portugal tem no horizonte a construção de um país mais justo e mais fraterno, quando a classe média, as famílias, os desempregados, os pensionistas é que vão pagar a crise. Como não fará sentido que a Constituição consagre o princípio de um serviço de saúde tendencialmente gratuito quando o FMI mandou, e o poder aceitou, aumentar as chamadas taxas moderadoras, medida em tempos chumbada pelo Tribunal Constitucional.
Os próximos anos vão ser para o comum dos portugueses de um enorme sofrimento. Mas a grande questão é que o sofrimento vai ser irreversível, a dor não vai passar. Portugal foi moldado agora para o futuro com base em conceitos ideológicos do mais cruel liberalismo. O campeão europeu da desigualdade vai fugir ao pelotão e conservar o ceptro por muitos anos.
«DE» de 6 Maio 11OS JORNAIS de ontem constatavam, candidamente, que a intervenção do FMI e seus parceiros em Portugal resultou mais moderada quanto ao corte do défice e mais radical nas reformas estruturais. Ou seja: o défice foi o pretexto, a mudança do regime foi o objectivo. As agências de rating forneceram o pretexto. Ora as mudanças de regime feitas por qualquer modalidade que não passe pelo sufrágio têm uma denominação particular: designam-se por golpes de estado.
No caso português em apreço, não se tratou de alterar os órgãos de poder pois isso não era necessário: a mudança de regime deu-se a pedido do Governo, com o aval do chefe de Estado e o visto da oposição de direita. Tratou-se de alterar o quadro das políticas que os governantes seguintes vão gerir. Oportunamente, uma revisão da Constituição dará os factos por consumados e consagrará as alterações. Perante o que o FMI e seus comparsas decidiram, e o poder aceitou, não fará sentido continuar na Constituição que Portugal tem no horizonte a construção de um país mais justo e mais fraterno, quando a classe média, as famílias, os desempregados, os pensionistas é que vão pagar a crise. Como não fará sentido que a Constituição consagre o princípio de um serviço de saúde tendencialmente gratuito quando o FMI mandou, e o poder aceitou, aumentar as chamadas taxas moderadoras, medida em tempos chumbada pelo Tribunal Constitucional.
Os próximos anos vão ser para o comum dos portugueses de um enorme sofrimento. Mas a grande questão é que o sofrimento vai ser irreversível, a dor não vai passar. Portugal foi moldado agora para o futuro com base em conceitos ideológicos do mais cruel liberalismo. O campeão europeu da desigualdade vai fugir ao pelotão e conservar o ceptro por muitos anos.
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4 Comments:
A argumentação é engenhosa, mas tudo o que vise procurar no exterior a causa principal da nossa actual situação de enorme degradação económica, política, social, cívica e ética, redunda em benefício de Sócrates, desculpabilizando-o, a ele e ao seu Partido, de quase 15 anos de erros de Governação, de usos e abusos cometidos para colocar o Estado e as Instituições ao serviço da sua Propaganda, da sua imaginada virtude política.
Sem colocar estes pontos à cabeça de qualquer tentativa de explicação do actual descalabro do País, todo o esforço de raciocínio sairá gorado, falhando no essencial, i.e., errando o alvo.
Resposta enviada por JPG:
«Sem querer desculpabilizar Sócrates, como também Guterres, o PS em suma, não podemos deixar de culpabilizar, no que cabe da crise ao plano interno, dois anos e fuga de Barroso, uns meses de carnaval santanista, dez anos de cavaquismo - a desmantelar o tecido produtivo e a investir os milhões da CEE no betão e numa farsa que consistia em mascarar o pagamento de salários com alegada formação profissional financiada por fundos estruturais, etc., etc. A imposição do recurso ao FMI essa sim foi animada de fora, com evidentes cumplicidades internas, onde estão presentes os do costume».
Agradeço a resposta, cujo sentido compreendo e, em parte, aceito.
Tão-pouco desejo ilibar de responsabilidades na degradação do País os agentes que JPGuerra nomeou.
Sucede que esses melhor ou pior já foram sancionados pelo eleitorado, ao passo que Sócrates permanece em cena e com possibilidade de continuar a exercer a sua nociva acção política, por falta de discernimento de grande parte da população portuguesa, demasiado entontecida pela informação deformada e manipulada que maioritariamente lhe é servida e ela acriticamente consome.
Por isso, os jornalistas com consciência política, cívica e patriótica devem saber distinguir prioridades nas suas análises e intervenções públicas.
De momento, poupar Sócrates equivale a prolongar a degradação do País.
Ainda que não nos entusiasmem as alternativas políticas que se desenham no horizonte próximo, é absolutamente necessário pôr cobro à nociva acção governativa de Sócrates, sequer à sua possibilidade de continuação.
Sem tal condição, nenhuma regeneração do tecido nacional se torna possível.
Sócrates tem envenenado todo o ambiente político nacional a tal ponto que nem na oposição ele deveria continuar a exercer qualquer influência política, embora isso seja negócio partidário, a cargo dos militantes do PS.
Eis o que pretendi evidenciar nos comentários que deixei expressos.
Leio com regularidade os artigos políticos de JPGuerra, embora nem sempre concorde com eles, em parte ou no seu todo, facto que me parece inteiramente natural, num ambiente de pluralidade de opinião político-cultural, condição que reputo indispensável em qualquer fórum de debate de natureza cívica.
Saúdo também o meu amigo e colega Medina pela criação de um espaço de debate com tal característica, infelizmente pouco comum no vasto meio internético.
Mais uma razão para de novo aqui o felicitar por este não despiciendo feito.
Caro António Viriato,
Obrigado pelas simpáticas palavras!
De facto, tenho-me sempre empenhado em convidar autores que, independentemente da sua ideologia, escrevam textos interessantes.
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