A experiência do marshmallow
Por Nuno Crato
PARA AS CRIANÇAS norte-americanas, não há maior guloseima que umas bolas brancas, meio disformes, de xarope de milho com gelatina que dão pelo estranho nome de marshmallows. O nome vem de uma planta medicinal que era de início usada na sua confecção — uma herbácea, que em português se designa como alteia, da família das Malváceas. Nunca vi uma tradução aceitável para português, mas também nunca vi essas bolinhas açucaradas no nosso país. Quem nunca as provou não pode perceber como são viciadoras. Demoram tempo a desfazer-se na boca, são doces sem serem enjoativas e podem comer-se às dúzias. São uma tentação para as crianças.
Nos idos de 1960, um psicólogo norte-americano, de nome Walter Mischel, usou marshmallows numa experiência que se tornou famosa. Chamava uma criança, sentava-a frente a uma mesa e colocava-lhe um marshmallow em frente. Dizia-lhe que ia sair da sala e que, se a criança se aguentasse sem comer a guloseima, na sua volta dar-lhe-ia mais uma.
A experiência, como é óbvio, destinava-se a testar a capacidade das crianças para diferir o prazer. Reproduzia uma questão fundamental que se coloca aos adultos, às empresas e às nações: gasta-se agora ou investe-se para o futuro?
Walter Mischel tinha sido induzido a fazer a experiência por observações que durante anos tinha feito em Trinidad, onde tinha observado atitudes muito contrastadas na apreciação do prazer imediato e na capacidade de auto-controlo. Após várias experiências, não ainda com marshmallows, mas com barras de chocolate, concluiu que as diferentes capacidades de resistência à tentação não tinham a ver com as diferentes etnias de origem das crianças, mas sim com o seu estrato socioeconómico.
De volta aos Estados Unidos, à sua Universidade de Stanford, iniciou de forma sistemática as experiências e observou as reacções de seis centenas de crianças entre os 4 e os 6 anos. Notou que a capacidade para diferir a gratificação dependia da idade. As crianças resistiam tanto mais a comer o marshmallow quanto mais anos tinham.
Os resultados realmente interessantes começaram a surgir anos mais tarde. Como as filhas de Mischel eram companheiras de escola de muitas das crianças que tinham sido objecto de estudo, o psicólogo reparou, por simples acaso, que havia uma correlação entre a anterior capacidade para resistir ao prazer imediato e o comportamento escolar. Resolveu seguir as crianças do estudo original e, conforme relatou num artigo de 1988, as que não tinham comido o primeiro marshmallow eram aquelas que os pais descreviam como mais capazes na vida escolar. Prosseguiu o estudo e, em 1990, notou que havia uma correlação positiva entre a capacidade de controlo na gratificação e as notas no fim do Ensino Secundário (SAT). Mas há mais, em diversas medidas, tais como o emprego, a remuneração, o sucesso profissional e a persistência no trabalho, os jovens com mais autocontrolo vieram a obter muito mais sucesso na vida.
Talvez uma das capacidades mais importantes que as famílias e as escolas podem ensinar às crianças seja a de resistir às guloseimas.
«Números e Letras» - «Expresso» de 30 Abr 11
PARA AS CRIANÇAS norte-americanas, não há maior guloseima que umas bolas brancas, meio disformes, de xarope de milho com gelatina que dão pelo estranho nome de marshmallows. O nome vem de uma planta medicinal que era de início usada na sua confecção — uma herbácea, que em português se designa como alteia, da família das Malváceas. Nunca vi uma tradução aceitável para português, mas também nunca vi essas bolinhas açucaradas no nosso país. Quem nunca as provou não pode perceber como são viciadoras. Demoram tempo a desfazer-se na boca, são doces sem serem enjoativas e podem comer-se às dúzias. São uma tentação para as crianças.
Nos idos de 1960, um psicólogo norte-americano, de nome Walter Mischel, usou marshmallows numa experiência que se tornou famosa. Chamava uma criança, sentava-a frente a uma mesa e colocava-lhe um marshmallow em frente. Dizia-lhe que ia sair da sala e que, se a criança se aguentasse sem comer a guloseima, na sua volta dar-lhe-ia mais uma.
A experiência, como é óbvio, destinava-se a testar a capacidade das crianças para diferir o prazer. Reproduzia uma questão fundamental que se coloca aos adultos, às empresas e às nações: gasta-se agora ou investe-se para o futuro?
Walter Mischel tinha sido induzido a fazer a experiência por observações que durante anos tinha feito em Trinidad, onde tinha observado atitudes muito contrastadas na apreciação do prazer imediato e na capacidade de auto-controlo. Após várias experiências, não ainda com marshmallows, mas com barras de chocolate, concluiu que as diferentes capacidades de resistência à tentação não tinham a ver com as diferentes etnias de origem das crianças, mas sim com o seu estrato socioeconómico.
De volta aos Estados Unidos, à sua Universidade de Stanford, iniciou de forma sistemática as experiências e observou as reacções de seis centenas de crianças entre os 4 e os 6 anos. Notou que a capacidade para diferir a gratificação dependia da idade. As crianças resistiam tanto mais a comer o marshmallow quanto mais anos tinham.
Os resultados realmente interessantes começaram a surgir anos mais tarde. Como as filhas de Mischel eram companheiras de escola de muitas das crianças que tinham sido objecto de estudo, o psicólogo reparou, por simples acaso, que havia uma correlação entre a anterior capacidade para resistir ao prazer imediato e o comportamento escolar. Resolveu seguir as crianças do estudo original e, conforme relatou num artigo de 1988, as que não tinham comido o primeiro marshmallow eram aquelas que os pais descreviam como mais capazes na vida escolar. Prosseguiu o estudo e, em 1990, notou que havia uma correlação positiva entre a capacidade de controlo na gratificação e as notas no fim do Ensino Secundário (SAT). Mas há mais, em diversas medidas, tais como o emprego, a remuneração, o sucesso profissional e a persistência no trabalho, os jovens com mais autocontrolo vieram a obter muito mais sucesso na vida.
Talvez uma das capacidades mais importantes que as famílias e as escolas podem ensinar às crianças seja a de resistir às guloseimas.
«Números e Letras» - «Expresso» de 30 Abr 11
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2 Comments:
Donde se pode inferir que nós, portugueses, estamos na primeira das infâncias, pois não conseguimos obter a segunda bolinha.
acho que há no LIDL ...
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