O Príncipe e a Plebeia
Por Maria Filomena Mónica
PELA PRIMEIRA vez desde 1660, um futuro rei de Inglaterra vai casar com uma menina que não provém da aristocracia, o que agradará a muita gente por esse mundo fora. Em 1867, Walter Bagehot disse o que havia a dizer sobre a popularidade dos casamentos reais. Os números que têm sido avançados pelas televisões sobre as audiências que acompanharão o enlace de William e Kate provam-no. Numa era em que os reality shows dominam os ecrãs, o noivado – anunciado, em primeira mão, no Facebook e no Twitter - é a telenovela do século. Para o bem e para o mal, a Casa de Windsor é um nicho de celebridades. A actual rainha e o marido são os últimos a poder recusar este estatuto.
Por muito irritante que fosse, e era-o, Lady Di inaugurou uma era na relação entre os monarcas e o povo. Tendo descoberto que, mesmo depois de casado, o Príncipe de Gales mantinha relações sexuais com uma antiga namorada, optou pelo adultério. A partir desse momento, e sobretudo da sua confissão pública, nada seria como dantes. Caso queira manter Kate dentro do redil, William terá de enveredar pela monogamia.
Trata-se de uma revolução nos costumes reais. Se exceptuarmos o casal formado por Victoria e Alberto, o puritanismo nunca ganhou raízes na Grã Bretanha. Dos muitos exemplos que poderia citar, escolhi dois. O futuro rei Jorge IV, um notório libertino, adiou o casamento até ser obrigado pelo pai, em 1795, a casar com Carolina de Brunswich. Ao ver a noiva, de tal forma a considerou horrenda, que pediu a um amigo: «Não me sinto bem; por favor, arranja-me um copo de brandy». Após lhe ter feito uma filha, presume-se que em estado de embriaguês, abandonou-a, tendo mantido, ao longo da vida, uma longa série de amantes. Ultrapassado o período Vitoriano, os reis voltaram aos seus maus hábitos, a ponto de, no leito de morte, Eduardo VII, ter tido a seu lado, não só a mulher, a Rainha Alexandra, mas a amante, Alice Keppel, aliás antepassada da actual mulher do Príncipe Carlos.
A concepção de que os monarcas devem ser bem comportados tem origem burguesa. Uma vez que a Inglaterra deixou de ser uma sociedade aristocrática, os reis e, por maioria de razão, as rainhas são forçados a comportar-se com recato. Sob este, como sob outros aspectos, Isabel II tem demonstrado compreender o que dela se exige. Sabe, além disso, que, para sobreviver, a Monarquia tem de se modernizar. O facto de gostar de Kate pode ajudar a que os súbditos mais snobs aceitem, como futura rainha, a filha de uma ex-hospedeira de bordo e de um milionário feito à pressa.
Apesar das críticas dos esquerdistas – que ostentam na lapela um botão com o slogan «O casamento que se lixe, o importante é lutarmos contra os cortes» – as ruas de Londres encheram-se de gente pretendendo ver os noivos a caminho da Abadia de Westminster. Claro que é a pompa que atrai o turismo, claro que são os pajens que provocarão lágrimas, claro que a cerimónia faz parte da Disneylândia real, mas, como sucede em momentos de crise, andamos ansiosos por que alguém nos volte a contar a história da Cinderela. Pelo que me diz respeito, não me importava que, em vez da troika financeira, os telejornais portugueses abrissem com imagens de uma noiva em todo o seu esplendor.
«Expresso» de 30 Abr 11PELA PRIMEIRA vez desde 1660, um futuro rei de Inglaterra vai casar com uma menina que não provém da aristocracia, o que agradará a muita gente por esse mundo fora. Em 1867, Walter Bagehot disse o que havia a dizer sobre a popularidade dos casamentos reais. Os números que têm sido avançados pelas televisões sobre as audiências que acompanharão o enlace de William e Kate provam-no. Numa era em que os reality shows dominam os ecrãs, o noivado – anunciado, em primeira mão, no Facebook e no Twitter - é a telenovela do século. Para o bem e para o mal, a Casa de Windsor é um nicho de celebridades. A actual rainha e o marido são os últimos a poder recusar este estatuto.
Por muito irritante que fosse, e era-o, Lady Di inaugurou uma era na relação entre os monarcas e o povo. Tendo descoberto que, mesmo depois de casado, o Príncipe de Gales mantinha relações sexuais com uma antiga namorada, optou pelo adultério. A partir desse momento, e sobretudo da sua confissão pública, nada seria como dantes. Caso queira manter Kate dentro do redil, William terá de enveredar pela monogamia.
Trata-se de uma revolução nos costumes reais. Se exceptuarmos o casal formado por Victoria e Alberto, o puritanismo nunca ganhou raízes na Grã Bretanha. Dos muitos exemplos que poderia citar, escolhi dois. O futuro rei Jorge IV, um notório libertino, adiou o casamento até ser obrigado pelo pai, em 1795, a casar com Carolina de Brunswich. Ao ver a noiva, de tal forma a considerou horrenda, que pediu a um amigo: «Não me sinto bem; por favor, arranja-me um copo de brandy». Após lhe ter feito uma filha, presume-se que em estado de embriaguês, abandonou-a, tendo mantido, ao longo da vida, uma longa série de amantes. Ultrapassado o período Vitoriano, os reis voltaram aos seus maus hábitos, a ponto de, no leito de morte, Eduardo VII, ter tido a seu lado, não só a mulher, a Rainha Alexandra, mas a amante, Alice Keppel, aliás antepassada da actual mulher do Príncipe Carlos.
A concepção de que os monarcas devem ser bem comportados tem origem burguesa. Uma vez que a Inglaterra deixou de ser uma sociedade aristocrática, os reis e, por maioria de razão, as rainhas são forçados a comportar-se com recato. Sob este, como sob outros aspectos, Isabel II tem demonstrado compreender o que dela se exige. Sabe, além disso, que, para sobreviver, a Monarquia tem de se modernizar. O facto de gostar de Kate pode ajudar a que os súbditos mais snobs aceitem, como futura rainha, a filha de uma ex-hospedeira de bordo e de um milionário feito à pressa.
Apesar das críticas dos esquerdistas – que ostentam na lapela um botão com o slogan «O casamento que se lixe, o importante é lutarmos contra os cortes» – as ruas de Londres encheram-se de gente pretendendo ver os noivos a caminho da Abadia de Westminster. Claro que é a pompa que atrai o turismo, claro que são os pajens que provocarão lágrimas, claro que a cerimónia faz parte da Disneylândia real, mas, como sucede em momentos de crise, andamos ansiosos por que alguém nos volte a contar a história da Cinderela. Pelo que me diz respeito, não me importava que, em vez da troika financeira, os telejornais portugueses abrissem com imagens de uma noiva em todo o seu esplendor.
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