30.6.11

As palavras, essa chatice

Por Ferreira Fernandes

CHEGAR às portagens e fazer o que quase todos fazem, sair, levantar a cancela e andar sem pagar, isso é explosivo. Transformar a capital do país, durante dias, palco de combate entre tropas de choque e manifestantes, granadas e cocktails Molotov, isso é explosivo. Votar à justa (155 em 300) porque a oposição não alinha, quando a alternativa era a bancarrota do país, isso é explosivo. Isso é explosivo e saber o que significa não exige consultar dicionários, basta ligar a televisão à hora do telejornal.
A Grécia está explosiva. Portugal, não. As manifestações, ontem, por exemplo, em Viana, foram ordeiras. Os portugueses estão descontentes mas não se deixam desesperar. Podem estar zangados mas não estão irados. O Governo adopta soluções duras, sabendo que não será recebido à pedrada. A oposição que está no Parlamento com o fito de vir a ser Governo (e este alcançado por votos, não pela rua) é responsável.
É este o retrato do País, cordato, não explosivo. Lembro-o porque, anteontem, o Presidente disse: "(...) se bem se recordam, há talvez mais de dois anos que disse que Portugal se aproximava de uma situação explosiva, lamentavelmente chegámos a essa situação explosiva." Não me recordo do que Cavaco Silva disse há dois anos e também não me vou recordar mais do que ele disse anteontem. Eu gostava, mesmo, era de um Presidente que não tropeçasse nas palavras.
«DN» de 30 Jun 11

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1 Comments:

Blogger JARRA said...

Cavaco Silva é o nosso Mr.Chance, mas sem a pinta do Peter Sellers!
Diz banalidades como bluf de coisas profundas! Nem interpretadores competentes dos seus aforismas conseguiu - que havemos de fazer?
Se a situação se tornar de facto explosiva, é natural que rebente! (não se esqueçam do que eu tinha dito!)

30 de junho de 2011 às 15:13  

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