Ser o que se é, não fogo de vista
Por Ferreira Fernandes
ASSUNTO ainda para romper meias solas, volto ao meu elogio de ontem a quem faz sapatos portugueses. Cortem gáspeas ou saibam vender o estilo do nosso calçado, puseram um sector português, entre a tremedeira geral, a exportar mais 20%. Os noticiários trataram o aumento salarial para o sector como mero acordo entre sindicatos e patrões daquela indústria. Mas não foi, foi consequência do que deve ser uma lição: os nossos sapateiros fazem bons sapatos. Tivéssemos nós um ano de notícias idênticas para outras profissões, tínhamos a crise resolvida.
Há dias, em entrevista ao Jornal de Negócios, Eduardo Paz Ferreira, reputado professor de Finanças Públicas, deu como filosofia de vida uma frase de Catherine Deneuve: "Faço bem as minhas coisas, porto-me bem, faço o que tenho de fazer." Fazer bem o que é devido fazer, eis a simples e honesta solução.
Infelizmente, há uma mania moderna pelo violino de Ingres. Nos noticiários que quase ignoraram os sapateiros, deu-se relevo aos 14 jovens empresários que foram aprender "liderança" para a tropa durante cinco dias. Deu imagens giras, jovens empresários fazendo rappel, mas se eles ainda não tinham aprendido que não se deve largar a corda que suspende um colega, não é a tropa que lhes ensina em cinco dias. A tropa é boa para quem se alista nela para fazer aquilo para que ela serve: ser tropa. Tal como Ingres foi um grande pintor (e não o faz de conta de um violinista).
«DN» de 13 Jun 11ASSUNTO ainda para romper meias solas, volto ao meu elogio de ontem a quem faz sapatos portugueses. Cortem gáspeas ou saibam vender o estilo do nosso calçado, puseram um sector português, entre a tremedeira geral, a exportar mais 20%. Os noticiários trataram o aumento salarial para o sector como mero acordo entre sindicatos e patrões daquela indústria. Mas não foi, foi consequência do que deve ser uma lição: os nossos sapateiros fazem bons sapatos. Tivéssemos nós um ano de notícias idênticas para outras profissões, tínhamos a crise resolvida.
Há dias, em entrevista ao Jornal de Negócios, Eduardo Paz Ferreira, reputado professor de Finanças Públicas, deu como filosofia de vida uma frase de Catherine Deneuve: "Faço bem as minhas coisas, porto-me bem, faço o que tenho de fazer." Fazer bem o que é devido fazer, eis a simples e honesta solução.
Infelizmente, há uma mania moderna pelo violino de Ingres. Nos noticiários que quase ignoraram os sapateiros, deu-se relevo aos 14 jovens empresários que foram aprender "liderança" para a tropa durante cinco dias. Deu imagens giras, jovens empresários fazendo rappel, mas se eles ainda não tinham aprendido que não se deve largar a corda que suspende um colega, não é a tropa que lhes ensina em cinco dias. A tropa é boa para quem se alista nela para fazer aquilo para que ela serve: ser tropa. Tal como Ingres foi um grande pintor (e não o faz de conta de um violinista).
Etiquetas: autor convidado, F.F
1 Comments:
Hoje em dia as coisas não se "fazem", muito menos "acontecem", simplesmente criam-se "eventos".
Em suma, somos um país de eventos, não de trabalho, mérito, competência. Bom, se pensarmos bem, Portugal não é um país, é, ele mesmo em si, um evento constante.
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