Um deslize colossal
Por Antunes Ferreira
DE ACORDO com o Dicionário Universal da Língua Portuguesa da Texto Editora, na página 346, o adjectivo colossal significa «que tem proporções de colosso; muito grande; vastíssimo; enorme; desmedido; gigantesco». Por seu turno, na mesma página e imediatamente a seguir, colosso (Lat. Colossu < Gr. Kolossôs, κολοσσός) é um s.m. «estátua enorme; (fig.) pessoa agigantada; coisa de grandes proporções; grande poderio ou valimento».
O termo leva directamente a recordar que uma das sete maravilhas do mundo antigo foi o Colosso de Rodes (Κολοσσός της Ρόδου), «uma estátua de Hélios, deus grego do sol, construída entre 292 a.C. e 280 a.C. pelo escultor Carés de Lindos. A estátua tinha trinta metros de altura, 70 toneladas de peso e era feita de bronze.», de acordo com a Wikipédia.
Esta, ainda acrescenta: «Já que o colosso tinha um pé apoiado em cada margem do canal que dava acesso ao porto, todas as embarcações que chegassem à ilha grega de Rodes, no Egeu, passariam obrigatoriamente sob as pernas da estátua de Hélios, protector do lugar. Na mão direita da estátua havia um farol que orientava as embarcações à noite. Era uma estátua tão imponente que um homem de estatura normal não conseguiria abraçar seu polegar.»
Pedro Passos Coelho, numa reunião interna do seu partido, o PSD, usou a palavra colossal para classificar o desvio nas contas públicas que o novo governo terá encontrado, justificando assim a necessidade de lançar medidas adicionais de austeridade este ano.
A afirmação – parece que ela sim desmedida – originou um debate que registou, entre outras obviamente, as intervenções do PS. Vitalino Canas defendeu que o primeiro-ministro devia ir à Assembleia da República justificar a que desvio se estava a referir e lançou a acusação de que o governo estava já «a preparar terreno para não cumprir os objectivos» acordados. Por seu turno, Vieira da Silva afirmou que Passos Coelho estava a usar o passado como capa para as novas medidas, ainda que tivesse antes afirmado que o não iria fazer. «Se o começa a fazer, esse sim, é um desvio colossal».
Esta reacção obrigou a que surgissem da parte dos sociais-democratas tentativas de explicação para o «desvio colossal». Esfarrapadas, há que dizê-lo. O primeiro-ministro o que pretendera dizer fora que face ao desvio, o trabalho que o Executivo tinha pela frente era «colossal». E quanto à ida ao parlamento, que sim, mas também, e que a «explicação genérica» devia ser «aprofundada».
Entretanto o Boletim Económico de Verão publicado esta semana pelo Banco de Portugal, indica que não é tanto assim. E refere que será apenas de 0,4% do PIB. E, até Miguel Beleza referiu que se o desvio fosse de facto de 0,4 pontos do PIB não lhe parecia colossal. Tanto quanto se pode presumir, a Moody’s esfregou as mãos de contente, pois que este tipo de afirmações tem normalmente um impacto negativo. Eles comem-se a si próprios, terão afirmado. Autofagia.
O «desvio colossal» ainda vai dar pano para muitas fatiotas. Pedro Passos Coelho deve estar a pensar que o seu PSD tem retransmissores que não consegue restringir. É dura a profissão de primeiro-ministro. E, mesmo na Rua de São Caetano, as paredes, além de terem ouvidos, tudo indica que também tenham boca. Enfim, um deslize colossal.
DE ACORDO com o Dicionário Universal da Língua Portuguesa da Texto Editora, na página 346, o adjectivo colossal significa «que tem proporções de colosso; muito grande; vastíssimo; enorme; desmedido; gigantesco». Por seu turno, na mesma página e imediatamente a seguir, colosso (Lat. Colossu < Gr. Kolossôs, κολοσσός) é um s.m. «estátua enorme; (fig.) pessoa agigantada; coisa de grandes proporções; grande poderio ou valimento».
O termo leva directamente a recordar que uma das sete maravilhas do mundo antigo foi o Colosso de Rodes (Κολοσσός της Ρόδου), «uma estátua de Hélios, deus grego do sol, construída entre 292 a.C. e 280 a.C. pelo escultor Carés de Lindos. A estátua tinha trinta metros de altura, 70 toneladas de peso e era feita de bronze.», de acordo com a Wikipédia.
Esta, ainda acrescenta: «Já que o colosso tinha um pé apoiado em cada margem do canal que dava acesso ao porto, todas as embarcações que chegassem à ilha grega de Rodes, no Egeu, passariam obrigatoriamente sob as pernas da estátua de Hélios, protector do lugar. Na mão direita da estátua havia um farol que orientava as embarcações à noite. Era uma estátua tão imponente que um homem de estatura normal não conseguiria abraçar seu polegar.»
Pedro Passos Coelho, numa reunião interna do seu partido, o PSD, usou a palavra colossal para classificar o desvio nas contas públicas que o novo governo terá encontrado, justificando assim a necessidade de lançar medidas adicionais de austeridade este ano.
A afirmação – parece que ela sim desmedida – originou um debate que registou, entre outras obviamente, as intervenções do PS. Vitalino Canas defendeu que o primeiro-ministro devia ir à Assembleia da República justificar a que desvio se estava a referir e lançou a acusação de que o governo estava já «a preparar terreno para não cumprir os objectivos» acordados. Por seu turno, Vieira da Silva afirmou que Passos Coelho estava a usar o passado como capa para as novas medidas, ainda que tivesse antes afirmado que o não iria fazer. «Se o começa a fazer, esse sim, é um desvio colossal».
Esta reacção obrigou a que surgissem da parte dos sociais-democratas tentativas de explicação para o «desvio colossal». Esfarrapadas, há que dizê-lo. O primeiro-ministro o que pretendera dizer fora que face ao desvio, o trabalho que o Executivo tinha pela frente era «colossal». E quanto à ida ao parlamento, que sim, mas também, e que a «explicação genérica» devia ser «aprofundada».
Entretanto o Boletim Económico de Verão publicado esta semana pelo Banco de Portugal, indica que não é tanto assim. E refere que será apenas de 0,4% do PIB. E, até Miguel Beleza referiu que se o desvio fosse de facto de 0,4 pontos do PIB não lhe parecia colossal. Tanto quanto se pode presumir, a Moody’s esfregou as mãos de contente, pois que este tipo de afirmações tem normalmente um impacto negativo. Eles comem-se a si próprios, terão afirmado. Autofagia.
O «desvio colossal» ainda vai dar pano para muitas fatiotas. Pedro Passos Coelho deve estar a pensar que o seu PSD tem retransmissores que não consegue restringir. É dura a profissão de primeiro-ministro. E, mesmo na Rua de São Caetano, as paredes, além de terem ouvidos, tudo indica que também tenham boca. Enfim, um deslize colossal.
Etiquetas: AF
2 Comments:
Pedro Passos Coelho no que de melhor sabe fazer.
Asneirar.
A máquina do PSD no que de melhor sabe fazer.
Propagar.
Gosto mais do Antunes Ferreira bem disposto. Política e políticos são sempre os mesmos, só mudam as moscas.
Enviar um comentário
<< Home