7.11.11

Escondidas

Por João Paulo Guerra

DIZEM as gazetas que o primeiro-ministro e o líder do maior partido da oposição se têm encontrado “às escondidas” para discutir o Orçamento de Estado para 2012.

Portugal tem tido originalidades orçamentais que espantaram o mundo, como foi o caso do Orçamento Limiano, com fatias de queijo em vez de duodécimos. E agora o Orçamento "às escondidas" é de todos o que se apresenta mais às escâncaras. O jogo das escondidas está viciado à partida porque o PS começou por revelar onde fica o seu esconderijo: é na abstenção. E a própria discussão da opção de voto no PS começou com o aviso do líder de que a hipótese dos socialistas votarem contra era "reduzidíssima", ao que se seguiram várias reprimendas a quem defendia algo diferente da proposta do líder.

Mas com o voto do PS no Orçamento decidido e anunciado, o que discutem os socialistas com o partido do Governo? Nada de substancial. O PS diz para efeitos de consumo político que "este não é o seu Orçamento". Mas, mesmo sem a necessidade do seu voto para que o Orçamento passe, não vota contra: abstém-se, que é como quem diz, colabora mas não entra, faz que anda mas não anda, marca passo. A questão bem poderá ser que o PS tenha entendido que nos tempos mais próximos não leva nada do eleitorado e assim, com estes atestados de bom comportamento, esperará levar alguma coisa por parte do poder. Há clientelas que não suportarão longas travessias do deserto.

Perante um Orçamento que vai condenar a classe média à pobreza e os pobres à miséria, o PS abstém-se e negoceia um gesto de caridade por parte do Governo: em vez de dois, cortar apenas um subsídio à função pública e respectivos reformados.

E é assim que, neste jogo de escondidas, o PS não tem mais para mostrar ao País que um partido dividido.

«DE» de 7 Nov 11

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