4.11.11

Ensaio sobre a cegueira alheia

Por Ferreira Fernandes

O DN PUBLICA hoje a lista Forbes dos 70 mais poderosos do mundo. Como todas as listas Forbes, esta também é pouco imaginativa: percorri os 70 nomes e não encontrei o do grego George Papandreou. Como se o órgão com mais poder de um cardíaco não fosse, exactamente, o coração fracote e em vias de ser decisivo.
Papandreou é poderoso: quando a Grécia espirra, a Alemanha e a França juntas apanham gripe. Quando Papandreou ameaça com um referendo, o euro desaba e Wall Street abana, e ele não é um dos poderosos do mundo?!
E nem se pode explicar a sua ausência entre os 70 por o poder da Grécia vir de calotes: na lista há um bandido indiano e um mexicano chefe de cartel de droga...
Brinco com coisas sérias, diz aquele senhor da mesa do canto. Ah, eu é que brinco. A Grécia (11 milhões de habitantes) está à beira do colapso e quando passar ao colapso não tem euros para comprar um barril de petróleo mas só iogurte para trocar por frutos secos e pode perder a liberdade e a democracia.
A Grécia está tão desesperada que o mais responsável dos seus políticos, o primeiro-ministro que toma medidas imprescindíveis, também propõe referendos e retira-os no dia seguinte. E essa Grécia agonizante não vê um sobressalto entre os seus políticos, um trabalhista Demóstenes Attlee que se junte a um conservador Diógenes Churchill, uma oposição e um governo que se transformem em gregos depressa e sem condições - e eu é que brinco?
«DN» de 4 Nov 11

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