12.11.11

O israelita mentiroso

Por Antunes Ferreira

MONS MUREM PEPERIT. Sabe-se que a frase em Latim se tornou calina. A montanha pariu um rato. Quer dizer, depois de muitas expectativas sobre determinado tema, o resultado obtido se não é zero é, quando muito, um dois, numa escala de dez. Foi o que aconteceu na tão esperada – e com carradas de ansiedade – cimeira do G20 que decorreu em Cannes, a capital da Côte d’Azur.
Será que o Mundo aguardava uma solução milagrosa para a crise que se estendia ao longo dele, qual hidra não de sete cabeças, mas de sete mil e sete? Debalde. As previsões eram pouco optimistas para não dizer mesmo pessimistas, mas, mesmo assim, lá no fundo do túnel parecia divisar-se uma luzinha, ainda que mais de lamparina ou de vela de estearina pindérica.
E, na verdade, a gente dita importante que participara na reunião veio de mãos a abanar. Já o mesmo acontecera na reunião magna europeia que poucos dias antes decorrera em Bruxelas. Bem tinham fingido frau Merkel e M. Sarkozy que pretendiam debelar a doença duma Europa supostamente unida - a caminho do coma. No entanto não houve mezinha, apenas um plano pífio e medroso.
Disse o Dr. Menezes, eterno presidente da Câmara de Gaia, que «tinha uma esperança de que o chanceler Köhl, mesmo doente, tivesse ido à capital belga. Já tinha menos esperança de que o presidente Miterrand pudesse ser exumado e ressuscitado…» A fina euronia, perdão, ironia do autarca laranja concluiu-se numa constatação evidente. O velho continente não andava nem desandava: marcava passo. Os analistas e outros sábios e especialistas torceram o nariz.
Mas, como a esperança, mesmo que muito ténue, é a última coisa a morrer, talvez na cidade à beira do Mediterrâneo as coisas melhorassem, ainda que não se esperasse uma cura radical. Meu dito, meu feito. Mais horas perdidas, mais desejos gorados, mais parto abortado. Preparavam-se já os pretensos salvadores para zarpar, um tanto desalentados, diga-se, quando um episódio no mínimo caricato serviu de bóia de salvação para tamanho naufrágio. Ora essa; serviu sim para detonar uma nova enrascada… mundial.
Uma vez mais, os jornalistas tiveram a culpa. Por acidente estranho, um microfone que se supunha desligado estava… ligado. O que permitiu a essa gente um tanto estranha fazedora de notícias ouvir uma interessante conversa entre Obama e Sarkozy. Referiam-se ao primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu. Numa aparente segurança que, feitas as contas, estava longe de se verificar.
O chefe de estado francês não foi de meias palavras: «Estou farto dele, é um mentiroso» afirmou. E o presidente norte-americano não se conteve: «Tu estás farto dele, mas eu tenho que o aturar todos os dias». Estava lançado o foguetório. Mas ainda faltava mais. O assunto escaldava, ultrapassara tudo o que se podia esperar após a tristíssima cimeira.
Os comentários tinham surgido quando, nos bastidores da conferência de imprensa que ambos se preparavam para dar, Obama interpelou Sarkozy sobre a questão infindável do Médio Oriente e lhe pediu explicações sobre o voto francês a favor da integração da Palestina na UNESCO, que surpreendeu meio mundo.
Foi então que saltaram as edificantes afirmações dos dois presidentes. E que vieram à tona de água. Claro que logo se fez processo de intenções. Os jornalistas a quem tinha sido pedido para não ligarem os auscultadores da tradução simultânea das palavras dos dois mandatários, haviam-nos ligado.
Face ao melindre do assunto, durou cinco dias o silêncio dos media. Os gabinetes dos patrões de Washington e de Paris bem se esfalfaram a explicar à comunicação social o tsunami que se verificaria se a conversa informal viesse a público. Mas, veio, pois o site francês «Arrêt sur images», especializado nos bastidores da imprensa e descodificação de conteúdos, acabaria por quebrar o silêncio e, em primeira mão, divulgou os contornos da conversa, cujo conteúdo foi posteriormente confirmado por um repórter da agência Reuters.
Moral da estória: já não se pode confiar em ninguém a começar pela própria sombra e a acabar em auscultadores indiscretos. Tal como logo nos inícios das emissões da televisão em Portugal aparecia nos ecrãs, dada uma falha técnica: o programa segue dentro de momentos. Mas, ainda não seguiu.

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4 Comments:

Blogger Quasímodo said...

O microfone ligado e a aparente indiscrição, só vem nos revelar uma minúscula parte do que pensam os donos do mundo. E de que as cimeiras - ou reuniões de cúpula - são meras teatralidades para esconder o que verdadeiramente está sendo feito.

12 de novembro de 2011 às 10:45  
Blogger Maria said...

Este namoro entre a bela Angela e o petit Nicolas, ainda vai dar que falar. Não gosto nada de ver os franceses e alemães muito amiguinhos.
Estes namoros geralmente, acabam mal e, fazem tremer o mundo.
Abraço
Maria

12 de novembro de 2011 às 10:49  
Blogger Prof.Ms. João Paulo de Oliveira said...

Caro confrade Henrique Antunes Ferreira!
Sua brilhante pena nos brindou com uma crônica que deixa patente as marcações de cena destas reuniões de cúpula, que no meu víes tem como escopo manter e ampliar a influência mundial dos países que se consideram os maiorais.
Caloroso abraço! Saudações desconfiadas!
Até breve...
João Paulo de Oliveira
Diadema-SP

PS - Tentei postar mais um comentário no seu imperdível blog da travessa, mas por motivos alheios a minha vontade não consegui...
Também não encontrei opção de seguir o Sorumbático...

12 de novembro de 2011 às 11:10  
Blogger R. da Cunha said...

Meu caro, mesmo na cama (honi soit qui mal y pense) é preciso ter cuidado com o que se diz ou faz e, quiçá, se pensa. 'Eles' estão em todo o lado e na primeira oportunidade caem-nos em cima
Também, quem é que não está farto de um tal Netanahui, de um Berlusconi, de um Sarkozy ou de uma frau Merkel?
Mas o mundo está a ser salvo: novos governantes são, não políticos, mas tecnocratas. Haja deus!

12 de novembro de 2011 às 19:08  

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