24.1.12

Quero comprar a RTP

Por Maria Filomena Mónica

DEPOIS DE LER o que se passou esta semana na «Comissão Parlamentar para a Ética, a Cidadania e a Comunicação» sobre o serviço público de comunicação social, decidi comprar a RTP. Tenho a certeza de que não há chinês que me vença num concurso limpo. Sempre defendi que a empresa deveria estar nas mãos de um déspota esclarecido. Ora, quem me conhece pode atestar quão despótica sou; quanto ao adjectivo, julgo ter as Luzes q.b para a dirigir. Os meus amigos, os mais ricos, não me negarão o dinheiro. Enfim, vou mudar de vida.
Mas imponho condições. Em primeiro lugar, antes de a ela dedicar esforço, quero saber tudo sobre a empresa. O Ministro Miguel Relvas tem de voltar a chamar João Duque, atribuindo-lhe uma missão, de que, como economista, se desempenhará bem, rodeando-se de colegas com quem trabalhará no sentido de me dar uma análise - com nomes, datas e números - dos custos do funcionamento do canal estatal ao longo dos últimos dez anos.

Este novo grupo de trabalho poderá começar pelo exame das encomendas feitas ao exterior. Ficarei, ficaremos, a saber quantos assessores, autores e realizadores foram pagos pela RTP a fim de produzir «conteúdos». Tratar-se-á de ver se cumpriram o acordado e, no caso de isso se não ter verificado, serão obrigados a repor as verbas. O grupo deverá ainda passar a pente fino as despesas feitas por estas equipas - em refeições, viagens e sub-contratações - procurando detectar possíveis excessos.

Findo este trabalho, passaria à análise dos gastos internos da RTP, uma empresa com 2.000 funcionários, o que nos faz desconfiar da necessidade de ir buscar gente fora. Estudar-se-iam depois os vencimentos auferidos. Há dias, percebi, com espanto, que havia quem considerasse escandaloso o facto de os salários das vedetas da RTP terem aparecido nos jornais. Não teremos, nós, os contribuintes, o direito de saber quanto aqueles ganham? Se o salário de um juiz, de um docente universitário ou de um clínico do Serviço Nacional de Saúde é público - por ser pago por nós – por que diabo não há-de o cidadão ter conhecimento de quanto ganha José Rodrigues dos Santos, Fernando Mendes ou José Carlos Malato?

Varrido o pó, conviria iniciar um debate sobre o destino da RTP. O argumento, apresentado por alguns dos actuais administradores, de que a empresa dá ao povo o que o povo gosta, não colhe. Um canal público não pode ter as audiências como razão última. É até para fugir à ditadura das maiorias que se defende a existência de um serviço público. A popularidade de um programa como o «Preço Certo» - com uma média de 900.000 telespectadores diários – embora ilustrativa do atraso português, nada diz sobre o que deve ser um tal serviço. Ou antes, diz o que não deve ser. Igualmente pagas pelo contribuinte são as escolas públicas e ninguém se lembrou de perguntar aos alunos se gostam dos curricula. O que conta num serviço público não é o número de pessoas pespegadas diante do ecrã, mas a qualidade da programação. Perguntar-me-ão como a garantir? Pondo-me à frente da RTP.
«Expresso» de 21 Jan 12

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8 Comments:

Blogger Laura Cachupa Ferreira said...

Os meus amigos, os mais ricos, mas claro que são todos ricos, uns mais outros menos.
Aposto que um até é merceeiro.
Fujam da frente !!!

24 de janeiro de 2012 às 11:20  
Blogger capitão said...

Eu também não percebo nada de Televisão. Mas se me derem um lugar com um vencimento "digno", não só aprendo num instante como até digo bem do governo.

24 de janeiro de 2012 às 12:03  
Blogger 500 said...

MFM, desculpe, mas já me inscrevi há muito. Vá para a bicha, fila, se preferir.

24 de janeiro de 2012 às 19:06  
Blogger José Batista said...

Compre, compre, Maria Filomena Mónica.
E se aquela coisa não tiver emenda deite-a fora, num qualquer sítio onde ninguém (nunca mais) a encontre.
E livrava-nos de uma janela de lixo pela casa dentro.
Que pagamos com couro e cabelo.
E as "vedetas": fazedores de notícias (sob a forma de "novelas telejornalescas"), propagandistas, anunciadores, "apresentadores-escritores" (e vice-versa), bajuladores, "politólogos (?!)", astrólogos e tantos outros, que se façam à vida, que versatilidade e contorcionismo, regra geral, não lhes faltam e muito lhes "quadram".
Eu, antecipadamente, agradeço.

24 de janeiro de 2012 às 19:56  
Blogger O Galã de Massa Má said...

O Zé Batista há muito que se anda a bater por um "tacho" numa das mercearias.

24 de janeiro de 2012 às 20:46  
Blogger José Batista said...

Ó Galã de Má Massa

Também os arranja?
Ou procura-os?
Ou já os tem?

Veja lá, quem tem tem, quem procura alcança e o diabo parece que paga sempre a quem o serve.
Ouvia dizer, lá pela minha aldeia.
Mas, se calhar, é tudo mercearia...
Se é que seja: é mercar! é mercar!
Bons lucros.

24 de janeiro de 2012 às 21:13  
Blogger O Galã de Massa Má said...

Pronto, Zé Batista, está tudo explicado, se você vem de uma aldeia está tudo explicado.
É de certeza a mesma aldeia onde os papás da MFM iam buscar as "criadas" (sic) que serviam a família em Lisboa e na Praia das Maças.

24 de janeiro de 2012 às 21:52  
Blogger José Batista said...

Pronto, galã, pronto.

24 de janeiro de 2012 às 22:35  

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