Mais 'p' ou menos 'p'
Por Ferreira Fernandes
FUI BATIZADO pelos capuchinhos na luandense igreja de São Paulo, então no musseque Cayatte, depois bairro de São Paulo quando as ruas foram asfaltadas. Minto, o que fui foi "baptizado". Batizado ofende-me um bocadinho os olhos mas, confesso, não me tira o sono.
A consoante muda já desaparecera em João Batista Drummond, rico brasileiro, barão de patrónimo esquisito, dos Drummond do Funchal que começaram por ser filhos dos simples Sebastião de Carvalho e Joana Costa. Ora o João Batista, de amputado "p", é dos meus que até dói. Nascido em 1825, foi tão cidadão do Rio que lhe deu um bairro castiço: Vila Isabel. A rua principal do bairro chama-se Boulevard 28 de Setembro, data assinalando a Lei Áurea que acabou com a escravidão no Brasil. O barão era progressista e fã da Princesa Isabel (neta do nosso D. Pedro IV), a regente que assinou a lei. O boulevard é tão pomposo como Drummond mas no essencial tem portuguesíssimas pedras de calçada, negras e brancas, desenhando pautas de música, dós e fás passeando-se pelos nossos pés. Uma das canções desenhadas é Cidade Maravilhosa, hino do Rio pela primeira vez cantado, no Carnaval de 1935, por Aurora Miranda, a irmã caçula de Carmen, a de Marco de Canaveses.
Por falar em Carnaval, daqui a dias Vila Isabel vai desfilar homenageando Angola, onde fui batizado. Ou "baptizado"? Diz um verso do samba-enredo da homenagem: "Somos cultura que embarca." Mais "p" ou menos "p", é isso.
«DN» de 17 Fev 12FUI BATIZADO pelos capuchinhos na luandense igreja de São Paulo, então no musseque Cayatte, depois bairro de São Paulo quando as ruas foram asfaltadas. Minto, o que fui foi "baptizado". Batizado ofende-me um bocadinho os olhos mas, confesso, não me tira o sono.
A consoante muda já desaparecera em João Batista Drummond, rico brasileiro, barão de patrónimo esquisito, dos Drummond do Funchal que começaram por ser filhos dos simples Sebastião de Carvalho e Joana Costa. Ora o João Batista, de amputado "p", é dos meus que até dói. Nascido em 1825, foi tão cidadão do Rio que lhe deu um bairro castiço: Vila Isabel. A rua principal do bairro chama-se Boulevard 28 de Setembro, data assinalando a Lei Áurea que acabou com a escravidão no Brasil. O barão era progressista e fã da Princesa Isabel (neta do nosso D. Pedro IV), a regente que assinou a lei. O boulevard é tão pomposo como Drummond mas no essencial tem portuguesíssimas pedras de calçada, negras e brancas, desenhando pautas de música, dós e fás passeando-se pelos nossos pés. Uma das canções desenhadas é Cidade Maravilhosa, hino do Rio pela primeira vez cantado, no Carnaval de 1935, por Aurora Miranda, a irmã caçula de Carmen, a de Marco de Canaveses.
Por falar em Carnaval, daqui a dias Vila Isabel vai desfilar homenageando Angola, onde fui batizado. Ou "baptizado"? Diz um verso do samba-enredo da homenagem: "Somos cultura que embarca." Mais "p" ou menos "p", é isso.
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