16.2.12

De camuflado só os argumentos legais

Por Ferreira Fernandes

DEPOIS da afirmação de Otelo, em novembro, sobre possível golpe militar e depois de D. Januário Torgal, bispo das Forças Armadas, na semana passada, não se admirar com a queda do Governo, estremeci com as notícias, ontem, de movimentações militares. Falou-se de "uma reunião" de três grupos de militares, onde se decidiu "avançar".
Outra notícia: "já [se] arrancou" para um objetivo. Um coronel garantiu que se pretendia "exercer pressão" sobre uma instituição para a "obrigar a tomar posição"...
Fui para a rua à cata de rastos de Chaimites, manobras de envolvimento e cheiro a pólvora. Mas em vez de discípulos de Clausewitz ou Sun Tzu, o que havia era prováveis clientes de Proença de Carvalho e Garcia Pereira. Em vez de lança-granadas, as armas eram jurídicas. Sim, houve uma reunião, mas de três legais associações de oficiais, sargentos e praças. Se avançaram com alguma coisa foi com ações judiciais em vários tribunais, tendo também arrancado com a recolha de assinaturas para o provedor de Justiça. E, cercado por essas pressões todas, só o Tribunal Constitucional...
A razão - se ainda a quiserem saber, agora que já suspiram de alívio - é a mesma que torna os restantes portugueses infelizes: os cortes salariais. Os militares adotarem as mesmas formas de luta para reagirem às mesmas queixas dos restantes cidadãos deveria ser banal. E, pelos vistos, até é. O alarido que se faz sobre o contrário é que é estranho.
«DN» de 16 Fev 12

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