14.2.12

«Dito & Feito»

Por José António Lima

BASÍLIO Horta, uma das heranças de Sócrates que Sócrates deixou na bancada do PS, veio agora autojustificar-se, alegando que, «hoje em dia, se um democrata-cristão quer fazer política, não tem, infelizmente, outro partido que não seja o PS».

Ora, não valem a pena tais malabarismos ideológicos para defender o indefensável. A verdade é que Basílio Horta construiu toda uma carreira política subordinando os valores ideológicos ao pragmatismo de estar com o poder do dia – seja qual for a sua ideologia – para se manter na ribalta.

Em resumo: antes do 25 de Abril, Horta foi um neófito corporativista do regime, a seguir participou na fundação do CDS, onde passou 15 anos como deputado ou ministro. Após 1991 – ano em que protagonizou um debate inesquecível nas presidenciais com Mário Soares, ao qual disse na cara cobras e lagartos, no melhor estilo Le Pen – desapareceu temporariamente de cena. Para voltar como deputado do CDS em 1999, até ser colocado como embaixador na OCDE de 2002 a 2005, de onde regressou, já a convite do novo poder de Sócrates, para a presidência da AICEP, da qual saiu directamente em 2011 para deputado agora do PS.

CONVERTIDO às delícias políticas da social-democracia e do socialismo democrático, Basílio Horta até já faz mea culpa: «Hoje, à distância, reconheço que fui excessivamente agressivo» com Mário Soares. Ao qual está mesmo definitivamente rendido: «Se há voz que se diferencia na política portuguesa, ainda é a dele...», acrescenta embevecido. Quanto a Sócrates, que deixou Portugal à beira da falência e desandou do país, Horta não esconde o que lhe vai na alma: «Cada vez sinto mais saudades políticas de José Sócrates». Comovente.

Na sua deriva democrata-cristã, Basílio Horta aterrou entretanto na bancada do PS, que olha de soslaio a sua peculiar presença. Onde tem feito, como é seu hábito, o papel de trauliteiro de serviço. E até já se coloca ao lado da CGTP nas críticas à UGT por esta ter assinado o acordo de concertação social, assim «abdicando de direitos muito importantes conquistados pelos trabalhadores ao longo do tempo», na visão do agora sindicalista ortodoxo Basílio Horta.

Por este andar, ainda acaba a transumância política no Bloco de Esquerda e na maçonaria.
«SOL» de 10 Fev 12

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2 Comments:

Blogger José Batista said...

Sim. Lembro-me de ter assistido ao tal debate entre Basílio Horta e Mário Soares. Nessa altura, empurrado por Paulo Portas, Basílio Horta parecia caturrar convictamente: com tal intensidade que, nesse debate, mais que a agressividade das palavras, ficou-me a visão da espuma que, literalmente, lhe escorria dos cantos da boca.
Uma pessoa da minha família, já falecida, sempre simpatizante (e votante) do CDS, também assistia e, no momento, decidiu logo, em voz alta, que ia votar em... Mário Soares.
Portanto, desde há muito que Basílio Horta "colabora" com o PS...
Eu cá, é que gosto pouco de muitas pessoas a que o PS dá guarida.
Se ao menos a oposição pudesse curar certas maleitas... Mas não vejo jeito.

14 de fevereiro de 2012 às 20:43  
Blogger José Batista said...

No comentário anterior, na antepenúltima linha, intrometeu-se-me uma vírgula onde não devia. Paciência. Decidi não apagar e re-escrever o comentário.

14 de fevereiro de 2012 às 21:32  

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