12.2.12

Gesto luso-alemão digno de memória

Por Ferreira Fernandes

UMA FOTO de 1936 marcou a semana. Um operário de um estaleiro de Hamburgo, no meio de uma multidão que fazia saudação nazi, é o único de braços cruzados. August Landmesser, de 26 anos, tinha boas razões para não ser nazi, era casado com uma judia alemã, mas também tinha prudentes razões para não chamar a atenção com gesto tão rebelde. E, no entanto, fê-lo. Por causa dos braços cruzados num mar contrário, Landmesser foi preso, metido durante a II Guerra Mundial num batalhão penal e desapareceu na frente russa. Quando, agora, um blogue recuperou a foto, a admiração que temos pelos gestos solitários, corajosos e calmos tornou a imagem viral e passeou-a pelo mundo fora. Por cá, também, mas com uma lacuna jornalística (julgo).
As notícias longínquas têm interesse em ser acompanhadas por similares notícias locais, se as houver, para melhor as explicarmos. Por esquecimento, ignorância ou tão-só esse vício dos jornais que dá por sabido o que já foi publicado ("já demos..."), não vi, esta semana, a foto dos irmãos portugueses de August Landmesser. Em 30 de janeiro de 1938, no Portugal-Espanha, no estádio das Salésias, a seleção portuguesa perfilou-se ao hino nacional e estendeu o braço em saudação fascista, como era norma. Mas três jogadores - Artur Quaresma, José Simões e Mariano Amaro, todos do Belenenses - não fizeram o gesto fascista. Há foto.
Resultado final do jogo: lembro-me do nome dos três, dos outros oito não.
«DN» de 12 Fev 12
NOTA (CMR): juntei a foto, encontrada na Wikipedia

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3 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

No blogue «Cromos do Belenenses» pode ler-se:

«Quando Cândido de Oliveira tomou o comando técnico do Belenenses, Mariano Amaro juntou ao jeito rebelde de ser e de jogar uma nova consciência. Social. Se isso lhe deu o carisma que fez com que, naturalmente, assumisse, à entrada para os anos 40, o cargo de capitão da Selecção Nacional, também lhe marcou o destino. Que pior poderia ter sido. Era um líder incontestado. Apaixonante. Mas, em Novembro de 1947, seria despojado do estatuto de capitão por questões... políticas, que a censura salazarista manteria, anos a fio, no segredo dos deuses... Nesse ano, antes de um Portugal-Espanha, como começava a ser costume, as equipas perfilaram-se diante da tribuna principal para saudar as entidades oficiais, com o braço erguido. Saudação fascista que eufemisticamente se chamava... olímpica. Três jogadores, todos eles do Belenenses, treinado por Cândido de Oliveira, não fizeram a saudação de braço em riste: Artur Quaresma deixou-se ficar em sentido, José Simões e Mariano Amaro foram mais longe e cerraram os punhos! No campo, mal se deu por isso, mas, depois, a revista Stadium publicou a fotografia, com uns dedos pintados, espetados, à frente das mãos fechadas — boa terá sido a intenção, mas mau foi o retoque. Ficou o gato escondido com o rabo de fora. A bronca estoirou. Os três jogadores chegaram a ser detidos pela PIDE, para averiguações, mas acabaram libertados, salvos, afinal, pela sua qualidade de futebolistas, já que se fossem atirados para os calabouços não haveria hipótese de se encobrir o escândalo, ter-se-ia de explicar porque não jogavam nos domingos seguintes. Decisiva terá sido a influência do capitão Maia Loureiro, figura grada da FPF e homem de confiança do regime, que garantiu que os futebolistas já se tinham desculpado pela «criancice» e prometido nunca mais «repetir a gracinha»...»

12 de fevereiro de 2012 às 13:20  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

NOTA: Há uma grande diferença de datas entre a que F.F. refere (30Janeiro 1938) e a que consta neste blogue (Novembro 1947), mas fio-me mais no rigor a que F.F. nos habituou:

Repare-se na recente história do "Piegas":
F.F. foi dos poucos que não "emprenhou de ouvido" e fez o que se impunha a um jornalista que quer dar a sua opinião: foi ouvir o que, de facto, foi dito - ridicularizando, com isso, uma legião de pataratas, de todos os quadrantes (que, pelos vistos, nem ler sabem).

12 de fevereiro de 2012 às 13:33  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Actualização:

Confirma-se que a data indicada por F.F. é que está certa.
Diz ele (e muito bem):
«Seria um anacronismo em 1947 fazerem a saudação fascista e um milagre José Simões alinhar (morreu aos 31 anos, em 1944)»

12 de fevereiro de 2012 às 20:24  

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