10.2.12

A mulher e as antigas namoradas

Por Ferreira Fernandes

HABITUADOS que estamos, cá em casa, a tirar as conversas do contexto - ui, fulano disse que as dívidas dos Estado não se pagam, ui, beltrano chamou-nos piegas... -, quando, lá fora, falam da grande moldura que Portugal carrega, não nos damos conta do elogio.
O sr. Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu, basicamente disse: Portugal não é Bélgica (ou a Áustria, ou a Dinamarca...). É o raio de um país com dez milhões de habitantes - por aí, um simples Luxemburgo engordado - mas com uma pegada impressa no mundo que só encontra rival europeu em França, Espanha e Inglaterra.
Compreende-se que isso enerve um alemão. Daí que, quando Schulz apela ao patriotismo europeu - sublinhando, justamente, a junção do progresso económico e os direitos dos povos -, se lembre de trazer Portugal para a liça. Porque nestes tempos de profunda crise europeia na economia e nuvens ameaçadoras sobre os direitos, incomoda que o pequeno país que é Portugal queira - pior, possa - mijar fora do penico da União.
Que tropas francesas intervenham por um dos candidatos presidenciais na Costa de Marfim ou Angela Merkel leve a Siemens ao colo até à chinesa Guangzhou é próprio das grandes potências. Já o minorca Portugal ir negociar para Luanda atrapalha a coesão europeia. Mulher não nos deixa falar com antigas namoradas...
Pois, habituem-se. Somos europeus, com honra e gosto, mas somos também mais do que isso, com muito passado.
«DN» de 10 Fev 12

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1 Comments:

Blogger Maria said...

Se o F.F. estivesse a fazer este discurso, em voz alta, quando acabasse, eu levantava-me, aplaudia, até me arderem as mãos e, só não gritaria Braaaaaaaavo, porque sou tímida.
Aqui, só posso agradecer-lhe o que escreveu, porque é isso que sinto e, não sei escrever.
O senhor escreve cada vez melhor! Já o leio há anos e, nunca me lembro de estar em desacordo consigo.
Só hoje, tive coragem para lhe contar isto.
Continue.
Maria

12 de fevereiro de 2012 às 17:45  

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