9.2.12

Sustentável

Por João Paulo Guerra

PORTUGAL começou a resolver o problema da dívida pública e já está consideravelmente mais endividado.

Começou a reestruturar os transportes públicos e milhões de passageiros fogem à menor oferta e ao disparo dos preços dos transportes. Começou a resolver o problema da rede de saúde e o Hospital de Santa Maria está a deitar por fora por ter de acolher os despejados do Curry Cabral. Já com o governo anterior, Portugal começara a resolver a questão prisional e agora deve as rendas dos edifícios que se comprometeu a abandonar pois as novas cadeias nem sequer começaram a ser construídas. Teme-se entretanto que o Governo avance com uma sua resolução do problema militar, instituição que o ministro considera insustentável, pois o mais certo é que a solução seja um disparate com efeitos imprevisíveis para a defesa e a soberania nacionais.

A questão não é apenas de incapacidade de uma classe política de meia tigela que se apossou da condução do País. A grande questão é de conceitos e Portugal há muito que abdicou do conceito de serviço público para passar a vender serviços ao público: caros e tendencialmente maus, porque são impostos. Isto é: o serviço de saúde, a segurança social, a educação, a justiça, a instituição militar passaram a ser entendidos como negócios, que o Estado sustenta para dar dividendos aos acionistas privados, e não como serviços que o Estado deve aos cidadãos. A falácia quanto à sustentabilidade de certos serviços e empresas públicas cai pela base perante a avidez manifesta sobre as hipóteses de privatização.

O que se revelou verdadeiramente insustentável em Portugal foi a delinquência financeira, o compadrio e o nepotismo, a rede de interesses que só são sustentáveis porque o País os sustenta. Mas quanto a isso, é pagar e calar.
«DE» de 9 Fev 12

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