Libreto
Por João Paulo Guerra
DE UM DIA para o outro o Portugal político acordou indignado com a camarada Angela Merkel.
Bastou que a Bundeskanzler apontasse a Madeira como um mau exemplo da aplicação dos fundos estruturais europeus - e não está feita a discussão sobre se tem ou não razão -, para que o leque partidário abanasse de indignação, repulsa e estupor. E depois, como se não bastasse, o também alemão Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu, criticou que o Governo português tenha apelado ao investimento angolano como um sinal do "declínio" no futuro de Portugal. Schulz poderá ter um pouco mais de polimento que Merkel, mas a sua acusação revela um pensamento inquietante.
Se um alemão era muita gente, dois já constituem um ajuntamento e o Portugal político sentiu necessidade de se dizer alvo de intromissão continuada, inflexível e contumaz. Parecia um libreto para um drama musical de Wagner. Ou uma conspiração, uma guerra relâmpago, e logo vinda da terra dos alamanos. Daí os comentários afinados pelo timbre das trompas wagnerianas.
Mas a verdade é que Portugal se pôs altamente a jeito. A disponibilidade com que o poder político se tem manifestado perante a insolência e sobranceria de supostos parceiros, a submissão com que tem aceitado todo o tipo de ingerência externa, o servilismo com que tem acatado as imposições de fora, a docilidade com que tem admitido a arrogância e altivez dos ocupantes, despertam os instintos do predador: sente medo, fobia, pavor por parte da putativa presa e vá de pôr as patas em cima. Foi o que aconteceu.
Acresce que falando da Bundes Merkel estamos a falar de pessoal de uma extração política e de uma cultura democrática baixíssima, que envergonharia uma galeria de ilustres governantes alemães e europeus. Lá, como cá, é o que há.
«DE» de 10 Fev 12DE UM DIA para o outro o Portugal político acordou indignado com a camarada Angela Merkel.
Bastou que a Bundeskanzler apontasse a Madeira como um mau exemplo da aplicação dos fundos estruturais europeus - e não está feita a discussão sobre se tem ou não razão -, para que o leque partidário abanasse de indignação, repulsa e estupor. E depois, como se não bastasse, o também alemão Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu, criticou que o Governo português tenha apelado ao investimento angolano como um sinal do "declínio" no futuro de Portugal. Schulz poderá ter um pouco mais de polimento que Merkel, mas a sua acusação revela um pensamento inquietante.
Se um alemão era muita gente, dois já constituem um ajuntamento e o Portugal político sentiu necessidade de se dizer alvo de intromissão continuada, inflexível e contumaz. Parecia um libreto para um drama musical de Wagner. Ou uma conspiração, uma guerra relâmpago, e logo vinda da terra dos alamanos. Daí os comentários afinados pelo timbre das trompas wagnerianas.
Mas a verdade é que Portugal se pôs altamente a jeito. A disponibilidade com que o poder político se tem manifestado perante a insolência e sobranceria de supostos parceiros, a submissão com que tem aceitado todo o tipo de ingerência externa, o servilismo com que tem acatado as imposições de fora, a docilidade com que tem admitido a arrogância e altivez dos ocupantes, despertam os instintos do predador: sente medo, fobia, pavor por parte da putativa presa e vá de pôr as patas em cima. Foi o que aconteceu.
Acresce que falando da Bundes Merkel estamos a falar de pessoal de uma extração política e de uma cultura democrática baixíssima, que envergonharia uma galeria de ilustres governantes alemães e europeus. Lá, como cá, é o que há.
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2 Comments:
Este comentário foi removido pelo autor.
Não foi neste país que um jornalista foi despedido, por ter tido a ousadia de dizer umas verdades sobre Angola e os lacaios locais que a servem?
Não é neste país que os media não ousam criticar os sobas de Angola?
Por quê?
A crónica está excelente mas ainda lhe faltou um nadinha.
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