Atleta da 'caminha' ataca de novo

Por Ferreira Fernandes

HÁ QUATRO anos, nos JO de Pequim, o grande acontecimento para os portugueses aconteceu na modalidade verbal. É sempre nessa modalidade que nos acontecem as coisas. Pois em Pequim (pouco depois, o Nélson Évora iria ganhar uma medalha de ouro com menos alarido), foi uma frase que subiu ao nosso pódio: "De manhã só estou bem na caminha." Disse-a um atleta, Marco Fortes, depois de ter feito um lançamento de peso (18,05 m) que o afastou da final. Aquela "caminha" atirou-nos para a indignação. O gajo que seja irradiado, o gajo deve pensar que andamos cá para sustentar pançudos...
Ora, na verdade, o gajo tinha dito a frase com um sorriso de campeão, de quem amortece a bola de lançamento de peso no peito e chuta, diríamos nós, que de bola só percebemos futebol (mas não dissemos porque a hora era de repúdio nacional).
Indiferente à nossa conversa barata, Marco Fortes estava mesmo a dar a volta por cima. A prova é que passou os últimos quatro anos a mostrar que, no lançamento, é o nosso melhor atleta de sempre, sôfrego de recordes. No domingo, bateu outro (20,91 m), o que, a repetir em Londres, o levará provavelmente à final. A acontecer, aconselho-o este discurso: "Deixo-vos a conversar, agora vou para a caminha." E sorria, Marco, que é a maneira dos fortes ensinarem os indignados profissionais.

«DN» de 14 Fev 12