16.2.12

Prudência

Por João Paulo Guerra

UM JORNAL diário dizia ontem que é por uma questão de “prudência” que PSD e CDS estão na dúvida quanto à constituição de uma comissão parlamentar de inquérito à gestão do BPN enquanto nacionalizado e à reprivatização a favor do Banco BIC.

Não, não é esse "Bic, Bic, Bic, Bic laranja". É o Banco BIC. Dizer que é presidido por um ex-ministro de Cavaco Silva não diz nada. O que mais há são ex-ministros de Cavaco Silva nessa constelação bancária.

Ora, toda a gente se deverá recordar quando o CDS, através do deputado Nuno Melo, era a voz que mais vociferava reclamando a atenção do Parlamento para o que se passava com o BPN. Agora, que o CDS tem a faca e o queijo na mão, impõe-se a "prudência", irmã da "circunspecção", tia da "reserva", prima da "cautela" e mãe que defende as sociedades de todos os perigos. Principalmente do perigo, que é dos piores, das surpresas desagradáveis ou das verdades inconvenientes.

O BPN é um caso que atinge uma clientela específica do regime. Ou seja, é um caso do regime. Ninguém poderá responder se alguma vez será julgado nas suas implicações de delinquência financeira. Mas para uma parte da sociedade política haverá que evitar, isso sim, que se esquadrinhem os interesses que constituem este caldo, entornado precisamente por via da excessiva imprudência e exposição.

De maneira que PSD e CDS estarão de acordo que o Parlamento aprove uma auditoria do Tribunal de Contas, que aliás já aprovou mas que ficou no tinteiro. Mas lá comissão de inquérito, alto lá. É que comissões de inquérito toda a gente sabe onde começam e acabam. O que não se sabe é por onde passam e em que segredos remexem. E o que muito bem se sabe é que o segredo é a arma do negócio.
«DE» de 16 Fev 12

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