19.2.12

Sinais modernos: pulsos discretos

Por Ferreira Fernandes

O LIBÉRATION andou esta semana atento ao pulso de Nicolas Sarkozy. Este recandidata-se às presidenciais e o interesse do jornal não era pela firmeza nas rédeas do país, era só pelo pulso esquerdo, o do relógio. Na eleição anterior, aquele pulso brilhava tanto como os colares ao peito de um cantor de rap. O que é neste de ouro grosso como barras de cadeia, em Sarkozy eram mostradores piscando as marcas.
Atraídos como borboletas pelos candeeiros, os jornalistas de então faziam listas dos avistamentos, com o risco de encandearem a menina dos olhos: um Rolex Daytona, um Breguet Réveil du Tsar, um Patek Philippe, um Berlingot Légitimer... Foram essas maravilhas do tic-tac que batizaram o primeiro mandato de Sarkozy: tempos de bling-bling, fórmula bebida no tal gosto rap.
O Rolex Daytona tendo sido visto no debate decisivo de há cinco anos, interrogou-se o publicitário da campanha, Jacques Séguéla, se não era um erro tanta exibição. Resposta: "Toda a gente tem um Rolex. Se aos 50 anos não se tem um Rolex é porque se falhou na vida."
Ter um Rolex GMT Master II no pulso também não garante sucesso na vida, Che Guevara tinha um no dia em que foi morto na guerrilha. Mas a antiga frase de Séguéla é boa para medir a crise a que chegámos: em 2012, ninguém, nem um candidato bling-bling, ousa ser tão ostensivo. E, de facto, confirmou o Libération, os relógios atuais de Sarkozy de tão modestos não espreitam pelo punho da camisa.
«DN» de 19 Fev 12

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