9.4.12

Bulas

Por João Paulo Guerra

O TURISMO, que é uma das fontes de receitas de cujo resultado Portugal espera sempre tanto como quem espera por D. Sebastião, ressentiu-se na Páscoa: menos turistas, correspondendo a menos entradas de oriundos de Espanha.

Só um tolo não conseguiria prever que isto ia acontecer. Mas quando no Verão o turismo ficar às moscas será então altura de Portugal deitar as mãos à cabeça.

Segundo reportavam as gazetas, as portagens nas antigas Scut foram dos fatores que mais arredaram os turistas oriundos de Espanha durante a época pascal no Norte do País. No Verão vai dar-se conta da dimensão do desastre correspondente à introdução de portagens na Via do Infante. É a ganância sem estratégia, própria da contabilidade de mercearia, arvorada em política económica: encher a caixa, rapidamente e em força.

No Verão, ao desastre das portagens irá juntar-se a calamidade do IVA a 23 por cento. Qualquer turista avisado, de Espanha ou em trânsito por Espanha, chega à fonteira e volta para trás ou fica-se por ali mesmo, onde a política das alcavalas é mais contida e tem o sentido dos efeitos de certas causas. Por cá, não. É preciso aumentar a receita? Toca a lança portagens e a trepar com o IVA. E depois? Depois se verá.

O Diário Económico fazia na edição de quinta-feira o retrato rigoroso de um ano de austeridade em Portugal: "Recessão mais profunda e o desemprego mais alto". Mas o Governo, com tantos e tão sapientes economistas, engenheiros e doutores não chega lá, a esse raciocínio elementar que até o FMI já entendeu que aconselha a cura da austeridade a não matar o doente.

O que acontece é que o Governo aplicou medidas de austeridade sem ter em conta a posologia e as contraindicações das bulas dos medicamentos.
«DE» de 9 Abr 12

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