Caos, cisão, Eros, ligação
Por Ferreira Fernandes
O PRIMEIRO dos deuses gregos - o mais antigo - era Caos. Ele
reproduzia-se com cisões, pedaços arrancados de si próprio. Para melhor
percebermos: Eros, deus mais moderno, reproduzia-se como a atriz Melina
Mercouri (mais tarde ministra da Cultura) no filme Nunca ao Domingo,
dengosa, apetitosa e esfomeada, com uniões de facto várias vezes ao dia.
Resumindo, Caos, cisão, Eros coligação.
Quis a mais recente das Grécias
reativar o mais antigo dos seus deuses. Ontem, o partido mais votado
(mas pouco, 18 por cento), a Nova Democracia (ND, centro-direita),
convidado a formar Governo, apesar de ter três dias para pensar, deitou a
toalha ao ringue ao primeiro dia: "Não vale a pena perder tempo", disse
o seu líder.
Hoje, será convidado o segundo partido, o Syriza, grupo de
extrema-esquerda, onde está, entre outros, o Synaspismós, cisão dos
comunistas. O Syriza também vai lançar a toalha porque a sua vocação não
é governar, mas ser uma impertinência, um sinapismo, uma cataplasma de
mostarda para provocar reação.
Convidado a seguir, o PASOK, socialista,
ainda há pouco maioritário mas com 13 por cento no domingo, nada
tentará, por impotente.
Há ainda cisões da ND, cisões do PASOK e do
Syriza, comunistas (KKE) em circuito fechado e nazis poetas (Aurora
Dourada) com jeito para dar nomes a condomínios.
O caos... O semanário
alemão Die Zeit diz que "um tal clima político fará bem ao país". Mas
receio que, a nós, fará coisa mais vinda de Eros.
«DN» de 8 Mai 12Etiquetas: autor convidado, F.F
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