8.5.12

Caos, cisão, Eros, ligação

Por Ferreira Fernandes
O PRIMEIRO dos deuses gregos - o mais antigo - era Caos. Ele reproduzia-se com cisões, pedaços arrancados de si próprio. Para melhor percebermos: Eros, deus mais moderno, reproduzia-se como a atriz Melina Mercouri (mais tarde ministra da Cultura) no filme Nunca ao Domingo, dengosa, apetitosa e esfomeada, com uniões de facto várias vezes ao dia. Resumindo, Caos, cisão, Eros coligação. 
Quis a mais recente das Grécias reativar o mais antigo dos seus deuses. Ontem, o partido mais votado (mas pouco, 18 por cento), a Nova Democracia (ND, centro-direita), convidado a formar Governo, apesar de ter três dias para pensar, deitou a toalha ao ringue ao primeiro dia: "Não vale a pena perder tempo", disse o seu líder. 
Hoje, será convidado o segundo partido, o Syriza, grupo de extrema-esquerda, onde está, entre outros, o Synaspismós, cisão dos comunistas. O Syriza também vai lançar a toalha porque a sua vocação não é governar, mas ser uma impertinência, um sinapismo, uma cataplasma de mostarda para provocar reação. 
Convidado a seguir, o PASOK, socialista, ainda há pouco maioritário mas com 13 por cento no domingo, nada tentará, por impotente. 
Há ainda cisões da ND, cisões do PASOK e do Syriza, comunistas (KKE) em circuito fechado e nazis poetas (Aurora Dourada) com jeito para dar nomes a condomínios. 
O caos... O semanário alemão Die Zeit diz que "um tal clima político fará bem ao país". Mas receio que, a nós, fará coisa mais vinda de Eros. 
«DN» de 8 Mai 12

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