7.5.12

Ainda falta a terceira volta

Por Ferreira Fernandes
ONTEM vinguei-me do nosso atraso tradicional em relação a Paris. Eça dizia que a modernidade nos chegava de lá, nos caixotes com livros, vindos pelo Sud-Express. Ontem, sentado no meu sofá lisboeta, vi parisienses inquietos e expectantes, na Mutualité, no coração do Quartier Latin (de onde saíam as novidades que Eça recebia muitos meses depois). 
Eram minhas 18.58, deles quase oito, hora do fecho das urnas, e eu tinha, já há duas horas!, a resposta que eles procuravam: Nicolas Sarkozy perdera. A lei francesa interdita que no dia das eleições se divulguem prematuramente sondagens, mas as sondagens fazem-se e são publicadas nos países vizinhos. 
As leis são teimosas, negando-se a reconhecer o "e pur si muove", célebre frase de Galileo Galilei, inventor da Internet, para fustigar os que recusam a realidade mesmo quando ela lhes entra pelos olhos dentro. 
O dia intenso de ontem também me abriu o apetite para a terceira volta. Esta é uma originalidade francesa: passadas as duas voltas presidenciais, seguem-se (já em junho) as legislativas que aumentam ou diminuem o poder ao Presidente (e, lá, também chefe do Governo). Se François Hollande conseguir uma maioria que lhe permita um governo forte, talvez faça ouvir na Europa a sua tese de "crescimento". Mas se Hollande perder a terceira volta, a notícia que ontem recebi com avanço sobre os franceses, devolvo-a de imediato porque é assunto meramente interno. Para cá, sem interesse.
«DN» de 7 Mai 12

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