Ainda falta a terceira volta
Por Ferreira Fernandes
ONTEM vinguei-me do nosso atraso tradicional em relação a Paris. Eça
dizia que a modernidade nos chegava de lá, nos caixotes com livros,
vindos pelo Sud-Express. Ontem, sentado no meu sofá lisboeta, vi
parisienses inquietos e expectantes, na Mutualité, no coração do
Quartier Latin (de onde saíam as novidades que Eça recebia muitos meses
depois).
Eram minhas 18.58, deles quase oito, hora do fecho das urnas, e
eu tinha, já há duas horas!, a resposta que eles procuravam: Nicolas
Sarkozy perdera. A lei francesa interdita que no dia das eleições se
divulguem prematuramente sondagens, mas as sondagens fazem-se e são
publicadas nos países vizinhos.
As leis são teimosas, negando-se a
reconhecer o "e pur si muove", célebre frase de Galileo Galilei,
inventor da Internet, para fustigar os que recusam a realidade mesmo
quando ela lhes entra pelos olhos dentro.
O dia intenso de ontem também
me abriu o apetite para a terceira volta. Esta é uma originalidade
francesa: passadas as duas voltas presidenciais, seguem-se (já em junho)
as legislativas que aumentam ou diminuem o poder ao Presidente (e, lá,
também chefe do Governo). Se François Hollande conseguir uma maioria que
lhe permita um governo forte, talvez faça ouvir na Europa a sua tese de
"crescimento". Mas se Hollande perder a terceira volta, a notícia que
ontem recebi com avanço sobre os franceses, devolvo-a de imediato
porque é assunto meramente interno. Para cá, sem interesse.
«DN» de 7 Mai 12Etiquetas: autor convidado, F.F
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home