5.5.12

Saúde religiosa

Por Antunes Ferreira
O PROBLEMA verdadeiro da Saúde é religioso. A afirmação é do economista João César das Neves, articulista prolífico e professor da Universidade Católica. Isto porque, na opinião do ilustre docente, católico praticante e autor de colunas de opinião em diversos órgãos da Comunicação Social «quem tem a solução (para o problema) é a pastoral da saúde». Isto é, «passa pelo trabalho da comunidade cristã».
Neves falava em Fátima, no penúltimo dia do XXIV Encontro Nacional da Pastoral Social da Igreja Católica Portuguesa. Disse também que «falar sobre o SNS é como discutir a paz no mundo, a fome em África, ou a globalização. É apenas uma maneira de fazer congressos em sítios simpáticos». Porém, não contente com isto, defendeu que a verdade, defende, é que o SNS é uma entidade abstrata e «aquilo com que temos de nos preocupar é com aquilo que é real, com as pessoas e os prestadores de cuidados de saúde que nos são próximos».
No entanto, «o problema da pastoral da saúde não é tratar dos pobrezinhos, que isso até os comunistas e os ateus o fazem». E acentuou que os cristãos «não são chamados a serem bonzinhos, mas a serem felizes, mesmo no sofrimento dos hospitais e isso só é possível confiando em Jesus Cristo». Para ele «o problema na Saúde, tal como é apresentado, não tem solução».
«Pode conter-se, mas nunca vai ter solução e isso também sucede nos países mais desenvolvidos», afirmou ainda, lembrando, entretanto que «Portugal não tem problemas de qualidade de saúde, apresenta ótimos indicadores e não tem falta de médicos ou de produtividade» no setor.
Mas - as adversativas são sempre o diabo em figura de gente -  Neves reconheceu que «a despesa é absolutamente brutal» e que «por isso é que o setor da Saúde está em dieta», ou seja, porque «sofre de obesidade, fuma, é sedentária e já mudou de médico várias vezes, sem melhorar». Donde concluiu o insigne economista, articulista e professor universitário, a Saúde em Portugal «sofre de tensão alta, tonturas e depressões».
Palavra de honra que me julguei perante um artigo apócrifo, irónico, mesmo até anedótico escrito sob pseudónimo, e não ando longe da verdade se confessar que pensei mesmo no dedo diabólico de Ricardo Araújo Pereira. Rejeitei, de imediato a segunda alínea: o patrão do Gato Fedorento escreve muito bem, logo. Quanto à primeira hipótese tive igualmente de a riscar: o texto era oriundo da Lusa, agência que não é dada a grandes rasgos de humor.
Por conseguinte, as afirmações – acentuo, segundo a Lusa – são mesmo do Prof. Neves, e inclusive são transcritas entre aspas o que é uma segunda garantia de que não resultaram de uma qualquer alucinação, ainda que apenas episódica, do jornalista de serviço em Fátima. Assim, fiquei perfeitamente elucidado: o verdadeiro problema da Saúde em Portugal é religioso. Só a Igreja Católica Apostólica e Romana o conseguirá resolver. Hospitais? Nada. Sacristias. Centros de Saúde? Nem pó, pias batismais. Transfusões sanguíneas? Nem pensar, vinho de missa. Ambulâncias? Qual quê, procissões com banda de música e anjinhos. E por aí fora.
Ortopedistas, otorrinolaringologistas, oftalmologistas, oncologistas, gastroenterologistas, cirurgiões, anestesistas, dentistas, cardiologistas e afins e correlativos não são solução. Quem sabe, talvez o padre António Fontes em Vilar das Perdizes possa ser uma esperança. Sempre é membro da Igreja Católica, é mesmo clérigo e renomado cultor das medicinas alternativas e/ou tradicionais. Para não falar no Padre Cruz, a quem chamam santo e que ainda nem beato é, mas há esperanças que lá chegará. Resumindo: não aos médicos, medicamentos, farmácias, farmacêuticos e enfermeiros, quiçá mesmo aos auxiliares de limpeza; sim à água-benta.

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6 Comments:

Blogger Maria said...

A.F.
"Fia-te na Virgem e não corras e verás o trambolhão que levas"- Ditado Popular.
Só não sabia que, os comunistas e ateus, tratavam os doentinhos. Fiquei satisfeita, até porque a maioria dos médicos que conheço, são ateus.
Quanto aos comunistas, se tratam os doentinhos, se calhar, não comem crianças ao pequeno-almoço.
A última coisa que fiquei com a certeza, embora já desconfiasse há muito, é que o J.C.N. é completamente parvo.
Maria

5 de maio de 2012 às 16:04  
Blogger R. da Cunha said...

Encerrem-se os hospitais e centros de saúde, e abram-se seminários, mesmo que menores, e construam-se capelas, já.

5 de maio de 2012 às 18:20  
Blogger David said...

Sim, o que se trata é de uma parvoíce de um alucinado que quer fazer de nós parvos?!
Porque perde tempo com isto?!!!

5 de maio de 2012 às 19:27  
Blogger Unknown said...

Maria

Um homem que tem a desfaçatez de dizer uma coisa destas - não quero classificar porque teria de afirmar que é um fdp - não compreendo como pode ser prof... universitário; mas é...

6 de maio de 2012 às 00:16  
Blogger Unknown said...

R. da Cunha

... e não esquecer os confessionários para os pacientes irem às consultas. Somos, realmente muito pacientes - e muitos

6 de maio de 2012 às 00:19  
Blogger Unknown said...

David

Confesso o meu pecado, perdão, a minha doença: já devia estar tratado à baculada... episcopal

6 de maio de 2012 às 00:22  

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