Saúde religiosa
Por Antunes Ferreira
O PROBLEMA verdadeiro da Saúde é
religioso. A afirmação é do economista João César das Neves, articulista
prolífico e professor da Universidade Católica. Isto porque, na opinião do
ilustre docente, católico praticante e autor de colunas de opinião em diversos
órgãos da Comunicação Social «quem tem a solução (para o problema) é a pastoral
da saúde». Isto é, «passa pelo trabalho da comunidade cristã».
Neves falava em Fátima, no penúltimo
dia do XXIV Encontro Nacional da Pastoral Social da Igreja Católica Portuguesa.
Disse também que «falar sobre o SNS é como discutir a paz no mundo, a fome em
África, ou a globalização. É apenas uma maneira de fazer congressos em sítios
simpáticos». Porém, não contente com isto, defendeu que a verdade, defende, é
que o SNS é uma entidade abstrata e «aquilo com que temos de nos preocupar é
com aquilo que é real, com as pessoas e os prestadores de cuidados de saúde que
nos são próximos».
No entanto, «o problema da pastoral da
saúde não é tratar dos pobrezinhos, que isso até os comunistas e os ateus o
fazem». E acentuou que os cristãos «não são chamados a serem bonzinhos, mas a
serem felizes, mesmo no sofrimento dos hospitais e isso só é possível confiando
em Jesus Cristo».
Para ele «o problema na Saúde, tal como é apresentado, não tem solução».
«Pode conter-se, mas nunca vai ter
solução e isso também sucede nos países mais desenvolvidos», afirmou ainda,
lembrando, entretanto que «Portugal não tem problemas de qualidade de saúde,
apresenta ótimos indicadores e não tem falta de médicos ou de produtividade» no
setor.
Mas - as adversativas são sempre o
diabo em figura de gente - Neves
reconheceu que «a despesa é absolutamente brutal» e que «por isso é que o setor
da Saúde está em dieta», ou seja, porque «sofre de obesidade, fuma, é
sedentária e já mudou de médico várias vezes, sem melhorar». Donde concluiu o
insigne economista, articulista e professor universitário, a Saúde em Portugal
«sofre de tensão alta, tonturas e depressões».
Palavra de honra que me julguei perante
um artigo apócrifo, irónico, mesmo até anedótico escrito sob pseudónimo, e não
ando longe da verdade se confessar que pensei mesmo no dedo diabólico de
Ricardo Araújo Pereira. Rejeitei, de imediato a segunda alínea: o patrão do Gato
Fedorento escreve muito bem, logo. Quanto à primeira hipótese tive igualmente
de a riscar: o texto era oriundo da Lusa, agência que não é dada a grandes
rasgos de humor.
Por conseguinte, as afirmações –
acentuo, segundo a Lusa – são mesmo do Prof. Neves, e inclusive são transcritas
entre aspas o que é uma segunda garantia de que não resultaram de uma qualquer
alucinação, ainda que apenas episódica, do jornalista de serviço em Fátima. Assim,
fiquei perfeitamente elucidado: o verdadeiro problema da Saúde em Portugal é
religioso. Só a Igreja Católica Apostólica e Romana o conseguirá resolver. Hospitais?
Nada. Sacristias. Centros de Saúde? Nem pó, pias batismais. Transfusões
sanguíneas? Nem pensar, vinho de missa. Ambulâncias? Qual quê, procissões com
banda de música e anjinhos. E por aí fora.
Ortopedistas, otorrinolaringologistas,
oftalmologistas, oncologistas, gastroenterologistas, cirurgiões, anestesistas,
dentistas, cardiologistas e afins e correlativos não são solução. Quem sabe,
talvez o padre António Fontes em Vilar das Perdizes possa ser uma esperança.
Sempre é membro da Igreja Católica, é mesmo clérigo e renomado cultor das
medicinas alternativas e/ou tradicionais. Para não falar no Padre Cruz, a quem
chamam santo e que ainda nem beato é, mas há esperanças que lá chegará. Resumindo:
não aos médicos, medicamentos, farmácias, farmacêuticos e enfermeiros, quiçá
mesmo aos auxiliares de limpeza; sim à água-benta.
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6 Comments:
A.F.
"Fia-te na Virgem e não corras e verás o trambolhão que levas"- Ditado Popular.
Só não sabia que, os comunistas e ateus, tratavam os doentinhos. Fiquei satisfeita, até porque a maioria dos médicos que conheço, são ateus.
Quanto aos comunistas, se tratam os doentinhos, se calhar, não comem crianças ao pequeno-almoço.
A última coisa que fiquei com a certeza, embora já desconfiasse há muito, é que o J.C.N. é completamente parvo.
Maria
Encerrem-se os hospitais e centros de saúde, e abram-se seminários, mesmo que menores, e construam-se capelas, já.
Sim, o que se trata é de uma parvoíce de um alucinado que quer fazer de nós parvos?!
Porque perde tempo com isto?!!!
Maria
Um homem que tem a desfaçatez de dizer uma coisa destas - não quero classificar porque teria de afirmar que é um fdp - não compreendo como pode ser prof... universitário; mas é...
R. da Cunha
... e não esquecer os confessionários para os pacientes irem às consultas. Somos, realmente muito pacientes - e muitos
David
Confesso o meu pecado, perdão, a minha doença: já devia estar tratado à baculada... episcopal
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