O rosto sob a máscara
Por Manuel António Pina
GOSTARIA
de não voltar à provocação congeminada pelo grupo Jerónimo Martins
contra o feriado do 1.º de Maio e a luta dos trabalhadores portugueses
pelos seus direitos, mas a culpabilização que por aí tenho visto dos
consumidores, na sua maioria pobres (e é desses que falo), que
literalmente assaltaram as lojas Pingo Doce para conseguir géneros
alimentares a metade do preço é, para mim, incompreensível.
É
certo que nem só de pão vive o homem, mas dizer isso a quem tem fome
(fome de pão tanto como de justiça) parece-me uma crueldade inaceitável.
Como
inaceitável é a condenação dos trabalhadores do Pingo Doce - em geral
precários e com salários brutos inferiores a 500 euros - por terem
cedido à chantagem da empresa, furando a greve para, mesmo humilhados e
ofendidos, poderem manter o emprego. Por um humilhante e extenuante dia
de trabalho terão recebido um salário/dia a triplicar, cerca de mais 30
euros; e, sobretudo (quem os culpará?), a possibilidade de obterem
também alimentos com 50% de desconto.
Alexandre Soares dos Santos
tem uma agenda política e, com total insensibilidade social e moral, pôs
as suas lojas, os seus trabalhadores e os seus clientes ao serviço
dessa agenda. Alguma coisa, além de comida a metade do preço por um dia,
os portugueses ganharam com isso: viram o rosto que está por detrás da
máscara.
«JN» de 3 Mai 12 Etiquetas: MAP
1 Comments:
O S.S. do Pingo Doce, mais não fez do que clarificar e reavivar as frontreiras de classe. Há que tirar lições e dar resposta adequada.
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