2.5.12

Manobras

Por Pedro Barroso
AS MANOBRAS do grande capital são por vezes maquiavelicamente inteligentes. 
A Jerónimo Martins/Pingo Doce ontem conseguiu, com o pleno de horas prime time de notícias nacionais, um lucro inimaginável que - se fosse pago ao segundo pela tabela habitual...- lhe deve retribuir em mais de umas mil vezes o que teria de pagar por todo esse tempo comercial em anúncios.
Associado - ao que divulgou...- a pessoal pago a triplicar por ser 1 de Maio; clientes felizes com descontos de 50%; auréola de firma "benfeitora e amiga dos pobres" em momentos difíceis e ao impressionante cash flow realizado num único dia, não se poderia, aparentemente, pedir mais. Fantástica engenharia de marketing e gestão. Totus felices... 
Só é pena estes rocamboles do impudor serem as bestas do capital absoluto, detentoras de um poder que se aproxima da guerra civil que lhes permite rir da miséria, anular o sentido de um dia 1.º de Maio e pôr um povo de gatas a catar a caridade.
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NOTA (CMR): estão disponíveis, na internet, diversos vídeos sobre este evento. Uma colecção deles está [aqui].

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1 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Depois de 3 'posts' a criticar (ou a gozar com) o Pingo Doce, aqui fica uma crónica que vai no sentido oposto.
Com o título «Cegueira Ideológica», escreve hoje Helena Matos, no BLASFÉMIAS:

HÁ MUITOS anos que o 1.º de Maio é uma celebração corporativa afecta ao PCP e a que o PS quando está na oposição dá importância. É um direito que lhes assiste mas que se pudessem transformavam num dever para todos. Todos os anos é a mesma ladaínha: foi pouca gente porque fazia chuva. Foi pouca gente porque fazia sol. Os jornais, rádios e televisões enchem-se com os discursos dos dirigentes sindicais e de umas pessoas com ar de reformadas e pronto cumpre-se o ritual com os desfiles cada vez mais rarefeitos e as bandeiras a tapar as clareiras. Ao contrário da Igreja que averigua, estuda e não esconde que está a perder fiéis, a perda de influência dos sindicatos é um tabu: não se pode dizer que não representam quase ninguém e que o 1.º de Maio é apenas um dia em que não se trabalha.

Com a crise enfiou-se na cabeça destas almas que as massas desfilariam atrás das suas bandeiras. Há meses que aparecem uns profetas do apocalipse anunciando barricadas, tumultos e montras partidas. E claro um 1.º de Maio de luta. Pois aí tiveram a luta por que andavam a reclamar: as massas acorreram ao Pingo Doce. Não para o escavacar mas sim para aproveitar uma promoção que só pode ser menosprezada por aqueles que têm emprego garantido para toda a vida ou grandes contas bancárias.

Os sindicalistas com promoções automáticas na função pública e os jornalistas que pagam o triplo do preço pelos produtos nas lojas ditas tradicionais estão para o mundo do trabalho como as senhoras da Obra das Mães estavam para as famílias numerosas: defendem um modelo de sociedade que só existe na cabeça deles. As senhoras da Obra das Mães após as incursões pelos bairros operários a exaltar a virtude das famílias numerosas regressavam às suas casas onde as esperavam as suas pequenas famílias que isso de ter muitos filhos não se lhes aplicava. Já esta espécie de frente de esquerda que hoje se escandaliza por as massas terem acorrido a fazer compras ao Pingo Doce estaria exultante se uma montra tivesse sido partida numa manifestação dita contra a crise. Uns extremistas de direita e de esquerda que atiraram pedras uns aos outros foram tratados com mais respeito pela comunicação social do que as pessoas que encheram carrinhos com as compras a metade do preço. Para a nossa comunicação social atirar pedras é ideologicamente coerente. Comprar o mais barato possível é coisa de bimbos.

Enfim, por cegueira ideológica os jornalistas-filhos de Boaventura Sousa Santos ficam desconcertados com a realidade e os sindicatos estão a perder influência. Defender os trabalhadores e os mais pobres passava por ontem ter defendido esta iniciativa do Pingo Doce e ter perguntado porque não fazem os outros supermercado o mesmo. E o resto é conversa.

2 de maio de 2012 às 18:08  

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