1.5.12

Não é armar a tenda, mas barraca

Por Ferreira Fernandes
HAVIA de haver uma lei não escrita mas de decência arreigada que ditaria o seguinte: nos últimos dias da campanha eleitoral são proibidos escândalos e revelações. Está aí a França a comprová-lo. 
Dos dois lados, candidatos com décadas de vida pública defrontam cascas de banana de última hora que vão ter impacto desmedido. 
Contra a candidatura de Sarkozy surgiu a "notícia" de que, em 2007, o atual Presidente recebeu 50 milhões de euros da Líbia. "Sarkozy-Kadhafi: a prova do financiamento", disse um jornal online, mostrando um documento. Eis a razão por que estas revelações tardias são sempre indecentes: se são mentirosas, são-no, se são verdadeiras, quem vai votar fá-lo-á sempre com uma dúvida que os últimos dias não dão tempo de tirar a limpo. E, de facto, no caso do tal documento dos 50 milhões, já surgiram versões antagónicas sobre a autenticidade. 
Por outro lado, o acontecimento tardio contra a candidatura de François Hollande foi uma abusiva ingerência: Dominique Strauss-Kahn, que deveria ser o candidato do PS mas que não o é por culpa sua, pelos escândalos em que se envolveu, parece ter decidido torpedear a campanha do seu camarada. Quando era do interesse de Hollande um DSK discreto, este dá uma entrevista retumbante e faz gala de aparecer em locais públicos onde estão dirigentes socialistas. 
Kadhafi e DSK, um morto de morte matada e um suicidado político, tornaram-se protagonistas de uma festa que não é deles. 
«DN» de 1 Mai 12

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